terça-feira, 17 de abril de 2007

Futebol

Boleiros, sempre

por Phydia de Athayde

Nos bastidores do futebol, novas regras custam a pegar. Já as antigas...



A legislação do direito desportivo muda a toda hora. Em dez anos, cinco normas diferentes trataram da transformação de clubes de futebol em sociedades comerciais. Elas se alternavam entre obrigar a mudança e simplesmente sugeri-la. A obrigatoriedade nunca pegou. Em abril, será votado um projeto de lei que, apesar de manter a opção facultativa aos clubes, pretende ser um marco regulatório no setor.



O autor, o deputado Silvio Torres (PSDB-SP), diz o que o motivou: "O investidor perdeu a confiança no esporte brasileiro, principalmente no futebol. Quando faz negócio, acaba entrando no jogo passional dos clubes". Para Torres, enquanto não houver uma ruptura na cultura de administração, irregularidades e denúncias continuarão a surgir. O projeto de lei quer oferecer aos clubes um modelo parecido com o seguido por times europeus. A nova lei seria atraente por garantir que os clubes terão benefícios fiscais hoje vigentes, como a isenção de PIS e Cofins. Em um estágio mais avançado, um clube poderia lançar ações na Bolsa.



No entender de Torres, a mudança mais importante, e necessária, é acabar com o amadorismo. Talvez por isso, antes mesmo de ser votado o projeto já encontra resistência nos gramados. Clubes como o Vasco, presidido por Eurico Miranda, cujo mandato está sendo questionado pela Justiça, jamais mostraram interesse em qualquer mudança que acarrete, por exemplo, a necessidade de transparência administrativa.



Há quem acredite que uma gestão austera e bem estruturada não depende de mudanças na legislação. É o caso do Clube Atlético Paranaense. Mario Celso Petraglia, ex-presidente e atual presidente do Conselho Deliberativo, fala a CartaCapital sobre o clube, que pode ser considerado um dos mais bem administrados do País: "Temos tudo informatizado, orçamento, sistemas, fluxo de caixa. A mudança de paradigma começou em 1995. Desde então, melhorou o nível de informação entre todos os diretores e o comprometimento geral. Somos administrados como uma empresa, mas a satisfação do nosso sócio é a vitória, e não o lucro".



O estádio do Atlético Paranaense, a Kyocera Arena, segue a tendência internacional de aliar marketing e serviços ao esporte. Os ingressos custam de 30 a 100 reais, e a ocupação média anual é de 50%. "Ter um estádio moderno só me traz prejuízo, pois não existe demanda para ele se manter. O clube passa por dificuldades que a conjuntura do futebol nos impõe", avalia Petraglia.



A modernização do futebol brasileiro, seja por via legal, seja por uma mudança de postura, é um tema complexo e espinhoso. Esbarra, inevitavelmente, em usos e costumes nem sempre louváveis.



Outro exemplo de como a via é tortuosa está nas articulações políticas referentes à Copa de 2014. Ao lado da Colômbia, o Brasil disputa o direito de sediar o mundial. A decisão da Fifa deve sair até o fim do ano. Ricardo Teixeira, presidente da Confederação Brasileira de Futebol (CBF), já roda o País a dizer, deliberadamente, quais estádios podem ou não ser aproveitados durante os jogos.



Por sua vez, a Câmara dos Deputados acaba de criar uma subcomissão interna para acompanhar a candidatura brasileira. O pedido veio de José Rocha (PR-BA), cuja campanha recebeu doações da CBF. Rocha garante, porém, que não há conflito de interesses: "Ter recebido dinheiro da CBF não compromete interesse nenhum, ao contrário. Ninguém pode, a priori, questionar o juízo de um deputado. Se fosse assim, nenhum deputado poderia participar de comissão, todos seriam impedidos de votar".



Existia, na Câmara, o pedido da criação de uma comissão externa e mais independente. A idéia, agora, fica enfraquecida. Ganha Ricardo Teixeira.

À sombra de um Pan-Americano com orçamento estourado, que não trará os benefícios prometidos ao Rio de Janeiro e cujas obras estão por um fio, a perspectiva de uma Copa do Mundo em moldes parecidos é desalentadora.

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