sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

Conheça as propostas de reforma do Conselho de Segurança da ONU

Fonte BBCBrasil Set 2005

A Assembléia Geral da ONU está discutindo a proposta de ampliar seu Conselho de Segurança. Conheça as posições defendidas pelos principais grupos de países que querem mudanças.

Grupo dos 4 (G4)

Formado por Brasil, Alemanha, Japão e Índia, o G4 quer ver as atuais 15 vagas do Conselho de Segurança ampliadas para 25.
Pela proposta, seriam criados seis novos assentos permanentes no fórum internacional, que ficariam com os países do grupo e duas nações africanas, além de outros quatro assentos não-permanentes.

Inicialmente, o G4 reivindicava o direito de veto para os novos membros, mas, convencido pela França, o grupo optou pela estratégia de inicialmente renunciar a esse direito.

A resolução final apresentada pelo grupo em julho à Assembléia Geral propõe que o debate sobre o direito de veto seja retomado apenas depois de 15 anos após a eleição dos novos membros do CS.

A proposta do G4 é apoiada por 23 países, incluindo um dos cinco atuais membros permanentes, a França.

Por outro lado, outros dois países que detêm assentos permanentes, os Estados Unidos e a China, uniram-se para evitar com que a proposta do G4 seja aprovada.


Segundo analistas, é a inclusão do Japão como membro permanente que motiva a oposição da China à proposta. Os chineses dizem que uma expansão radical do CS seria "perigosa" para a estabilidade mundial.

A China defende a inclusão de mais países em desenvolvimento no Conselho de Segurança.

Por outro lado, os Estados Unidos só apóiam a candidatura do Japão.

Qualquer emenda aos estatutos da ONU precisa ser ratificada pelos atuais cinco membros permanentes do Conselho.

União Africana

Representando 53 países, a União Africana tem uma posição parecida à do G4 e também deseja a criação de seis novas vagas permanentes para o CS, mas tem insistido na prerrogativa do direito de veto para os novos membros do Conselho.

O bloco detém cerca de um quarto dos 191 votos da Assembléia Geral e, para ser aprovada, qualquer resolução precisa do apoio de dois terços, ou 128 votos, do plenário.

No entanto, existem profundas divisões entre os países-membros do bloco.

O Egito, a Nigéria e a África do Sul aparecem como os mais fortes candidatos a ocupar as novas vagas no CS, caso elas sejam criadas, mas deve haver dificuldade na hora de escolher dois entre os três.

Porém, outros países - como Argélia, Quênia e Angola – estão pouco contentes com a perspectiva de ficar na "segunda divisão".

Apesar de a União Africana defender o poder de veto para os novos membros permanentes do Conselho de Segurança, o bloco teria aceitado abandonar, por ora, essa exigência, durante uma reunião realizada com representantes dos países do G4 – Brasil, Alemanha, Japão e Índia - no final de julho.

Unidos pelo Consenso

O grupo inclui Paquistão, Argentina, Canadá, México e Itália. Esses países se opõem à introdução de novos membros permanentes no CS e propõem a criação de dez novas vagas não-permanentes.

Ao que tudo indica, o "Unidos pelo Consenso" não conta com apoio significativo entre os países da ONU.

Porém, segundo um diplomata do G4, é possível que o grupo tente bombardear a proposta do G4 durante o debate – usando artifícios como a introdução de emendas que desfigurem a resolução ou pedidos de adiamento do processo decisório da Assembléia Geral.

09/11/2010 - 12h43
Itália defende reforma no Conselho de Segurança da ONU

Fonte Folha de São Paulo DA ANSA, EM ROMA DE SÃO PAULO

A Itália se uniu aos governos que vêm defendendo nos últimos dias mudanças no Conselho de Segurança da ONU (Organização das Nações Unidas), e exortou por somente um assento europeu entre os membros do organismo.

"Estamos por um assento da Europa e acreditamos que uma reforma da ONU deva se dirigir a uma maior democratização e uma maior representatividade", declarou o ministro de Relações Exteriores, Franco Frattini, em um fórum de diálogo entre Itália e Turquia.

"Há áreas do mundo que devem ser melhor representadas. Penso, por exemplo, na África. É conhecida a posição italiana no que se refere à Europa, existem assentos históricos como Reino Unido e França. A história não pode ser mudada, mas o presente sim", continuou ele.

O Conselho de Segurança da ONU é formado por cinco membros permanentes com direito a veto -- além de Reino Unido e França, Estados Unidos, China e Rússia, as nações vencedoras da Segunda Guerra Mundial (1939-1945) -- e dez membros não-permanentes -- atualmente Brasil, México, Japão, Áustria, Uganda, Turquia, Nigéria, Líbano, Gabão e Bósnia Herzegóvina.

"O presente se chama Tratado de Lisboa [legislação da União Europeia que entrou em vigor no ano passado] e o tratado caminha na direção de um assento europeu", apontou o chanceler, afirmando não querer dizer "não a ninguém", mas "sim ao assento europeu".

O CS foi discutido pelo presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, em sua visita à Índia. Ontem, em um discurso no Parlamento local, ele disse "que, nos anos que vierem, desejamos um Conselho de Segurança reformado" e apoiou a demanda do país asiático por um assento permanente.

"Nos anos seguintes, eu espero ansiosamente por um Conselho de Segurança das Nações Unidas reformado que inclua a Índia como membro permanente", disse Obama em discurso a Parlamento indiano, em sua primeira visita oficial à maior democracia do mundo.

Por outro lado, Obama alertou que a Índia teria que assumir um papel mais responsável em assuntos internacionais, como pressionar o governo de Mianmar para adotar a democracia. "A Índia constantemente se esquivou de alguns desses assuntos. Mas falar por aqueles que não tem voz não é interferir nos assuntos de outros países."

O apoio a Índia vem num momento em que o país compete cada vez mais com a China pelos recursos globais, da África à América Latina. Mas sua assertividade econômica vem frequentemente acompanhada por uma diplomacia cautelosa em assuntos como Mianmar e as relações com o Irã.

O Conselho de Segurança da ONU --responsável pelas decisões mais importantes da organização-- sempre teve cinco membros permanentes com poder de veto desde que o órgão foi criado, mas essa composição foi criticada por não refletir a divisão de poder no século 21. Os cinco assentos pertencem a EUA, China, Reino Unido, França e Rússia, com direito a veto. Há ainda outros dez membros não permanentes. O Brasil é outro que almeja uma reforma no Conselho.

BRASIL  O presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse nesta segunda-feira os Estados Unidos são "apenas uma voz" de um total de cinco outros países dentro do Conselho de Segurança da ONU e que o Brasil conta com o apoio de França, Inglaterra e China para integrar o órgão. Ele chegou a Maputo sem ainda saber do apoio dado pelo presidente norte-americano Barack Obama à entrada da Índia no conselho.

"Só espero que o presidente Obama faça agora, desse compromisso dele com a Índia, uma profissão de fé e consiga efetivamente abrir o Conselho de Segurança para que outros países possam participar", disse.
Lula se mostrou favorável ao ingresso do país asiático no grupo. Segundo ele, todos os continentes precisam estar representados e que a dúvida deveria ser quantos países de cada continente passariam a integrar o organismo.

08/11/2010 - 20h53


Lula diz que EUA são "só uma voz" no Conselho de Segurança da ONU

Fonte Folha de São Paulo SIMONE IGLESIAS ENVIADA A MAPUTO

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse nesta segunda-feira os Estados Unidos são "apenas uma voz" de um total de cinco outros países dentro do Conselho de Segurança da ONU e que o Brasil conta com o apoio de França, Inglaterra e China para integrar o órgão. Ele chegou a Maputo sem ainda saber do apoio dado pelo presidente norte-americano Barack Obama à entrada da Índia no conselho.

Ao ser questionado pelos jornalistas, ouviu uma explicação rápida do ministro Celso Amorim (Relações Exteriores), que fez questão de dizer que a decisão dos EUA era positiva antes de Lula passar a responder sobre o tema.

O presidente afirmou, no entanto, que espera que a partir de agora, Obama faça de seu apoio à Índia um compromisso e consiga impulsionar mudanças na ONU. A formação do Conselho de Segurança é a mesma da Segunda Guerra Mundial (1939-1945).

"Só espero que o presidente Obama faça agora, desse compromisso dele com a Índia, uma profissão de fé e consiga efetivamente abrir o Conselho de Segurança para que outros países possam participar", disse.

Lula se mostrou favorável ao ingresso do país asiático no grupo. Segundo ele, todos os continentes precisam estar representados e que a dúvida deveria ser quantos países de cada continente passariam a integrar o organismo.

"É impensável que seja possível discutir reforma da ONU sem a participação da Índia, sem a participação do Brasil, sem a participação da África. É impossível", afirmou o presidente.

Para Lula, mudanças significariam "amadurecimento" dos países que tomam as decisões.

Ao lado do presidente quando questionado se o apoio dos EUA à Índia não acabavam com as pretensões do Brasil, o chanceler respondeu que "não tem nada a ver."


OBAMA NA ÍNDIA

Hoje, o presidente americano, Barack Obama, anunciou nesta segunda-feira seu apoio a um assento permanente para a Índia no Conselho de Segurança da ONU (Organização das Nações Unidas). O anúncio é um reflexo do crescente peso do país asiático no cenário global e seu desafio à rival China.

"Nos anos seguintes, eu espero ansiosamente por um Conselho de Segurança das Nações Unidas reformado que inclua a Índia como membro permanente", disse Obama em discurso a Parlamento indiano, em sua primeira visita oficial à maior democracia do mundo.

Por outro lado, Obama alertou que a Índia teria que assumir um papel mais responsável em assuntos internacionais, como pressionar o governo de Mianmar para adotar a democracia. "A Índia constantemente se esquivou de alguns desses assuntos. Mas falar por aqueles que não tem voz não é interferir nos assuntos de outros países."

O apoio a Índia vem num momento em que o país compete cada vez mais com a China pelos recursos globais, da África à América Latina. Mas sua assertividade econômica vem frequentemente acompanhada por uma diplomacia cautelosa em assuntos como Mianmar e as relações com o Irã.

O Conselho de Segurança da ONU --responsável pelas decisões mais importantes da organização-- sempre teve cinco membros permanentes com poder de veto desde que o órgão foi criado, mas essa composição foi criticada por não refletir a divisão de poder no século 21. Os cinco assentos pertencem a EUA, China, Reino Unido, França e Rússia, com direito a veto. Há ainda outros dez membros não permanentes. O Brasil é outro que almeja uma reforma no Conselho.

A Índia alega que ter uma cadeira no Conselho de Segurança da ONU refletiria seu crescente peso no G20, na medida em que sua economia de trilhões de dólares ajuda a reduzir os efeitos da crise econômica.

Obama não quer Brasil no Conselho da ONU


Segundo diplomata americano, presidente é contra entrada do País como membro permanente e evitará falar sobre o tema em sua visita em março     06 de fevereiro de 2011

Fonte : Denise Chrispim Marin - O Estado de S.Paulo

O presidente dos EUA, Barack Obama, não deverá trazer seu apoio à entrada do Brasil no Conselho de Segurança da ONU como membro permanente durante sua visita ao País, em março. A Casa Branca e a diplomacia americana trabalham para contornar inevitáveis e constrangedoras perguntas da imprensa e para não prejudicar seu projeto de relançar as relações bilaterais.
Fonte : Larry Downing/Reuters

Recomeço.   Obama pretende relançar relações com Brasil

Segundo uma fonte do Departamento de Estado, a mudança na posição de Washington é uma possibilidade remota. Seria um "milagre". Para o governo americano, o Brasil cometeu um "pecado mortal" ao votar contra a resolução do Conselho de Segurança sobre novas sanções ao Irã, em junho.

Posição brasileira. A iniciativa brasileira teria sido mais grave que a insistente busca pelo acordo nuclear com o Irã porque "comprometeu a própria credibilidade do sistema" e deu mostras da contaminação das decisões mais sensíveis de política exterior do País pela personalidade do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e do ex-chanceler Celso Amorim. "Foi uma burrada", disse a fonte.

Para o Departamento de Estado, ainda não está claro se o governo de Dilma Rousseff, como continuidade da administração Lula, preservará a mesma linha de ação na área externa.

Essa dúvida começará a ser dirimida no dia 23, quando o chanceler Antônio Patriota fará sua primeira visita à secretária de Estado dos EUA, Hillary Clinton, em Washington.

Essa será a primeira oportunidade de diálogo entre EUA e Brasil sobre o passo anterior - a reforma do Conselho de Segurança, que permanece engavetada na ONU.


Hillary evita apoiar pleito do Brasil na ONU


Secretária de Estado dos EUA encoraja País a continuar lutando por vaga no Conselho de Segurança, mas não oficializa respaldo ambição brasileira

23 de fevereiro de 2011

Fonte : Denise Chrispim Marin, O Estado de S. Paulo

WASHINGTON - Ao lado do chanceler Antônio Patriota, a secretária americana de Estado, Hillary Clinton, encorajou o Brasil a continuar seus esforços para integrar o Conselho de Segurança das Nações Unidas como membro pleno no futuro. Mas, não deixou escapar nenhum sinal de apoio de seu país ao pleito brasileiro. A declaração antecipou a provável resposta do presidente Barack Obama, que fará sua primeira visita ao Brasil nos dias 19 e 20 de março.

"Nós admiramos muito o papel do Brasil como líder global e sua aspiração de ser membro permanente do Conselho de Segurança. Esperamos manter um diálogo construtivo com o Brasil sobre a reforma do Conselho", afirmou Hillary, ao ser questionada pela imprensa se as posições brasileiras sobre o programa nuclear iraniano no ano passado ainda seriam um obstáculo a esse pleito. "Acreditamos que há muitas áreas multilaterais nas quais o Brasil pode demonstrar sua liderança e damos apoio a esses esforços."

Hillary não esperou a resposta de Patriota, sob o pretexto de estar atrasada para uma reunião com Obama. Seus assessores, entretanto, anotaram a discreta cobrança do chanceler sobre a promessa feita pelo presidente americano em Nova Délhi, em 2009, de engajar seu governo na reforma do Conselho de Segurança.

Patriota insistiu que o governo brasileiro pretende contribuir com a solução de questões desestabilizadoras da ordem mundial, como a do Irã. "Na medida em que há um apreço ao trabalho que o Brasil vem fazendo no Conselho de Segurança, estamos muito bem posicionados aqui", afirmou o ministro.

Os EUA já deram apoio explícito à ascensão do Japão e da Índia à posição de membros plenos do Conselho. O antigo suporte à Alemanha nunca foi reiterado por Obama. Ao Brasil, o apoio em curto prazo tornou-se inviável desde o voto contrário do País às sanções adicionais do Conselho de Segurança ao Irã, em junho passado.

Hillary destacou que o governo brasileiro obedeceu a decisão final e aplicou a nova retaliação. Mas, na avaliação do governo americano, a atitude não é suficiente para se ter uma clara visão do comportamento do Brasil como membro pleno do órgão mais relevante na área de segurança mundial.

Na conversa com Patriota, ela insistiu no compromisso americano de conceder "importante" transferência de tecnologia ao Brasil, no caso da escolha dos caças F-18 Super Hornet na concorrência da Força Aérea Brasileira.

quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

O ‘guru’ dos manifestantes egípcios

 por Luiz Raatz
17.fevereiro.2011 17:18:53

Quando se fala em não-violência o primeiro nome que se vem à cabeça é o Mahatma Gandhi, herói da independência da Índia. Talvez o doutor Martin Luther King, conhecido por sua luta pelos direitos civis nos EUA. Um ou outro pode se lembrar de Henry David Thoreau, ideólogo da desobediência civil. Os manifestantes que derrubaram as ditaduras de Zine Ben Ali e Hosni Mubarak seguiram os ensinamentos de outro homem, no entanto: o cientista político americano Gene Sharp. O jornal americano The New York Times publicou um perfil sobre ele.


 



Sharp é o autor de “Da Ditadura à Democracia – um guia conceitual para a libertação”. O livro de apenas 93 páginas, disponível para download em 24 línguas ( há versões em inglês e espanhol, mas não em português) tem inspirado dissidentes em países como Mianmar, Bósnia, Estônia e Zimbábue – e agora, na Tunísia e no Egito.


De acordo com Ahmed Maher, um dos líderes do Movimento 6 de Abril, que organizou os protestos contra Mubarak, os dissidentes conheceram os textos de Sharp analisando o movimento sérvio Otpor, o qual ele influenciou. Mais tarde, quando o Centro Internacional sobre Conflitos Não-Violentos deu um wokshop no Cairo, alguns dos textos do cientista político foram traduzidos para o árabe.

De acordo com Dália Ziada, blogueiro egípcio e ativista pró-democracia, as ideias de Sharp – principalmente sobre atacar as fraquezas dos ditadores se tornou popular no movimento.


Sharp, de 83 anos, vive hoje em uma pequena casa em Massachusetts, comprada em 1968. Assistiu à revolução egípcia pela televisão. “O povo do Egito fez isso. Não eu.”, diz, sobre seu trabalho.


Na era da ‘revolução via Twitter e Facebook’, Sharp mal sabe ligar o computador. Em seu escritório há um post it colocado por sua assistente, Jamila Raquib, com um passo a passo sobre como enviar um Email. Mora com ele na casa também um Golden Retriever de nome Sally.


Sharp inspirou seu trabalho nos ensinamentos de Gandhi. Seus textos falam de desobediência civil, boicotes econômicos e luta por direitos civis. De acordo com ele, a não-violência é a melhor arma contra uma ditadura. “Se você luta com violência, está lutando com a melhor arma do seu inimigo”, diz. “Será um herói corajoso e morto”.

De olho nos acontecimentos no Oriente Médio, Sharp se diz emocionado pela atitude dos manifestantes egípcios, especialmente a coragem deles diante da ditadura. “Esse é um ensinamento de Gandhi. Se as pessoas não temem os ditadores, eles têm um problemão pela frente”.

Fonte http://blogs.estadao.com.br/radar-global/o-guru-dos-manifestantes-egipcios/




segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

Revolta chega aos ricos, agora com violência







Revolta chega aos ricos, agora com violência


CLÓVIS ROSSI Fonte : FOLHA DE SÃO PAULO



Há duas diferenças essenciais entre as revoltas na Tunísia/Egito e na Líbia/Bahrein: a revolução chegou aos países mais ricos do mundo muçulmano e, ao menos na Líbia, está sendo marcada pela violência também de parte dos rebelados, não apenas das forças pró-regime.

O Bahrein tem uma renda per capita de quase US$ 20 mil, similar à da França, oito vezes a do Egito. Já a Líbia, com seus US$ 12 mil de renda por pessoa, bate o Brasil e a Turquia, dois dos grandes emergentes.

É claro que esse indicador pode ser enganoso, devido à pequena população dos dois novos focos de revolta, contraposta a uma imensa riqueza petrolífera. O Bahrein tem 700 mil habitantes e, a Líbia, 6,4 milhões, contra os 80 milhões de egípcios.

Mas a riqueza, quanto maior, mais goteja para os mais pobres, o que reforça a impressão cada vez mais consolidada de que a rebelião é por liberdade muito mais do que por pão.

Escreve, por exemplo, Jean-Yves Moisseron, economista do Instituto de Pesquisa para o Desenvolvimento, no "Monde" desta segunda-feira: "Muito pobre nos anos 50, a Líbia é o país mais rico da África. O petróleo permitiu desenvolver a educação, a habitação e a saúde quase gratuita para todos. A população líbia é educada. O status das mulheres é invejável [claro que em relação ao mundo muçulmano], com uma igualdade de direito e de fato e com a interdição da poligamia".

Tudo somado, Moisseron explica a rebelião pelo "crescente descasamento, tornado insuportável, entre o desenvolvimento econômico que conduz por toda a parte a um modo de vida inscrito na modernidade, e a manutenção de regimes políticos ultrapassados, frequentemente encarnados por chefes de Estado envelhecidos e caracterizados por incrível imobilismo".

É, na essência, a mesma constatação que a Folha já reproduzira no sábado, vinda do filósofo argelino radicado na França Sami Naïr, para quem a cultura política dos jovens árabes em rebelião provem da "insuportável contradição entre a liberdade negada na vida cotidiana e a liberdade extrema de que os jovens desfrutam na internet, no Facebook, no Twitter, nos SMSs etc".

Nicholas Kristof, colunista do "New York Times" que está percorrendo os países rebelados, escreveu hoje que, para ele, o que está acontecendo lhe parece "a versão árabe de 1776", o ano da guerra da independência norte-americana, embebida precisamente pelo ideal da liberdade.

Se é de fato assim, está ocorrendo uma revolução de tremendas consequências para o mundo todo, não apenas para o Oriente Médio, a Pérsia, o golfo Pérsico.

Quanto à violência na Líbia, na forma de queima de edifícios governamentais, fica difícil de explicar porque a mídia estrangeira, ao contrário do Egito e da Tunísia e mesmo do Bahrein, é mantida à distância, inclusive a rede Al Jazeera.
Pode ser resposta à insuportável violência do próprio governo ou pode ser reflexo de disputas tribais, já que o regime se apoia em acordo com diferentes tribos, que estão igualmente representadas nas Forças Armadas.

segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

Os ventos da revolução arejam o Norte da África

. Por Mário Maestri, de Porto Alegre

Das ameaçadoras entranhas do deserto social, o temido simum da revolução luta para vencer os ventos neoliberais que avassalam o mundo.


Como o temido simum, vento seco, duro, forte, que varre o Saara do sul ao norte, a tempestade formou-se na Tunísia, golpeando, errática, o mundo islâmico − Argélia, Iêmen, Jordânia −, antes de se abater, duríssima, sobre o Egito. A enorme perplexidade sobre a explosão popular se deve, sobretudo, ao fato de ferir duramente a apologia do grande capital sobre uma população mundial muda e imóvel diante dos mandos e desmandos dos poderosos sobre seus destinos. É como se eclodisse, novamente, no mundo, a era das revoluções.
Nada indicaria a sublevação, ao menos na superfície das aparências, fixação eterna da grande mídia. Na Tunísia e no Egito, a economia ia de vento em popa, com importantes aportes de capital estrangeiro, que garantiam fortes taxas de crescimento do PIB: 5% em média, nos últimos 10 anos, em uma Tunísia embalada pelas privatizações e profunda liberalização. O valor das ações egípcias na bolsa do Cairo triplicou desde 2005.

Tunísia, Arábia Saudita e Egito são o tripé da vasta rede de ditaduras que o imperialismo USA levantou no mundo islâmico, após a queda de Reza Pahlevi, o shah da Pérsia, em 1979, para sustentar Israel e a rapinagem geral da riqueza petrolífera que exige a acumulação mundial do capitalismo. Ditaduras com as quais o governo USA conta para combater o Irã e impedir na região o ingresso da China e da Rússia, ambas à procura de mercados e matérias primas. O que explica o desespero do governo e da diplomacia estadunidenses, ao sentirem vacilar, com a multitudinária mobilização, as ditaduras da Tunísia e, sobretudo, do Egito, país de mais de 80 milhões de habitantes e forças armadas de 500 mil homens, a grande guarda pretoriana USA na região, após Israel.

Totalmente superado pelos fatos, o governo Obama enviou às pressas ao Cairo seu mais experiente diplomata para a região, para acelerar a renúncia de Hosni Mubarak, há 30 anos no poder, e tentar pôr fim à mobilização popular (como na Tunísia), antes que ela atinja o núcleo duro do regime. Apoiado pelos governos de Israel, Arábia Saudita, Argélia, por Mahmoud Abbas, da Autoridade Nacional Palestina, e pela alta oficialidade do poderoso exército egípcio, ele desconfessou seu governo. Propôs que o velho ditador seguisse na presidência até as eleições de setembro, como segurança contra a radicalização que poderia originar um Estado do estilo “iraniano” ou “bolchevique”!

Integralismo islâmico

Sobretudo a derrota do nacional-desenvolvimentismo árabe permitiu a construção de regimes clientes do imperialismo estadunidense e europeu, apoiados economicamente, em essência, na liquidação dos recursos energéticos nacionais e no turismo, e em burguesia e classes médias rapazes e despreocupadas com a sorte de população, então, em boa parte camponesa e analfabeta.

A dissolução da URSS, a depreciação do socialismo, o colaboracionismo da esquerda nessa região e a forte repressão que esta última conheceu ensejaram que o integralismo islâmico expressasse rusticamente as reivindicações populares, sob o forte influxo da revolução iraniana − Egito, Turquia, Marrocos, Líbano (Irmandade Muçulmana); Argélia (FIS); Líbano (Hezzbolah); Palestina (Hamas), Jordânia (FAI), Afeganistão (talibãs) etc.

Nas últimas décadas, a África do Norte transformou-se em uma região com grande população [em torno de 200 milhões de habitantes], nas regiões mediterrâneas, com alta expectativa de vida [70 anos, nas regiões], muito urbanizada [Cairo, 14 milhões de habitantes], dominantemente jovem e, hoje, relativamente instruída [10% de analfabetos entre a população masculina de 15 a 24 anos]. Comumente, as mulheres são maioria nas universidades.

Uma população jovem e adulta que, há décadas, vive exasperada pelo desemprego e sub-emprego, que não lhes permitem inserir-se em um mundo que a educação e a grande mídia lhes apresentam pleno de promessas, reais e falsas. Piorando tudo, a forte crise mundial do capitalismo desacelera fortemente a busca, na Europa, nem que seja de trabalho duro e mal pago, realizado sob forte discriminação, quando não de racismo aberto. Dos 10 milhões de tunisianos, um milhão encontra-se fora do país.

Um mundo sem futuro

Nos últimos anos, no Magrebe, o desespero social é tamanho que se tornou quase habitual a auto-imolação de jovens em protesto contra as condições de existência. O estopim da enorme revolta que varre boa parte do mundo árabe foi o auto-sacrifício, pelo fogo, em 17 de dezembro 2010, do jovem tunisiano Mohamed Bouazizi, informático desempregado, de 26 anos, após ser esbofeteado e humilhado pela polícia, que confiscou suas mercadorias de camelô pobre.

As transformações sociais em boa parte do mundo muçulmano ensejam fenômenos políticos raramente registrados pela grande mídia. Entre eles, destaca-se o descrédito crescente do islamismo político entre as novas gerações. Crescidas no desemprego e na informalidade, elas afastam-se de integralismo incapaz de oferecer mais do que medidas paliativas [escolas, hospitais, comedores etc.], pois integrado social e ideologicamente à sociedade excludente, da qual seus dirigentes participam, não raro com destaque.

Característica marcante do movimento na Tunísia e no Egito é seu caráter laico e a reivindicação de liberdade política que ponha fim ao desemprego e miséria popular. Entre os manifestantes destacavam-se mulheres jovens, adultas, idosas. No próprio Egito, a Irmandade Muçulmana somou-se às manifestações apenas após sua consolidação, e deposita suas fichas em El-Baradei, o ocidentalizado e pró-americano ex-diretor da Agência Internacional de Energia Atômica.

Fenômeno também pouco discutido é a gênese, principalmente no Egito, de um novo sindicalismo classista, reunido em apenas fundada federação de sindicatos independentes. A sublevação anti-Mubarak é superação das grandes mobilizações contra o apoio, em 2000, do governo egípcio a Israel, e à invasão do Iraque, em 2003; das duras greves de trabalhadores no Delta do Nilo, após dezembro de 2006; das mini-intifadas, em Borollos e Muhalla, em 2008. Foi nas regiões operárias do Egito que a população assaltou delegacias, apoderando-se de armas, durante as últimas manifestações. Desde 2004, no Egito, as ações de protesto de trabalhadores foram mais de três mil!

A praça e as ruas são do povo

O movimento tunisiano apenas catalisou no Egito a profunda oposição popular, à qual se somaram jovens das classes médias, o que levou às ruas, no dia 1º de fevereiro, talvez quatro milhões de manifestantes − um milhão no Cairo; 500 mil em Alexandria; 300 mil em Suez; 250 mil em Mahalla. Ao igual que na Tunísia, também no Egito, é do movimento operário que pode surgir a centralização de um movimento sem direção clara, handicap negativo com o qual os regimes ditatoriais e o imperialismo contam para frustrar a onda revolucionária, por esgotamento, se possível, ou num banho de sangue, se necessário.

O caráter social, político e laico do movimento, paradoxalmente, é um enorme problema para o imperialismo. O integralismo islâmico foi usado tradicionalmente, pelo grande capital, com excepcionais resultados, na luta contra o nacionalismo, o socialismo e o comunismo árabes. Após a derrota da URSS, o combate ao integralismo é o fantasma utilizado para impor a hegemonia imperialista política, ideológica e militar − “Guerra ao Terrorismo” −, à população estadunidense e mundial.

Não existiria o constrangimento de Obama ao ser flagrado, pela opinião pública interna e mundial, sustentando com um bilhão de dólares anuais a Hosni Mubarak e à ditadura egípcia, se estivesse em marcha no Magrebe uma revolução pela imposição da sharia e não pelos direitos democráticos e sociais básicos.

Mais ainda, o ingresso de milhões de populares na arena política, na luta por reivindicações democráticas e sociais, já exerce e exercerá uma influência difícil de ser avaliada sobre a população mundial. Com destaque para a Europa, onde os trabalhadores gregos − parte do mundo mediterrâneo −, protagonizam batalhas históricas, ainda que isoladas, contra a nova ofensiva do capital contra os direitos do mundo do trabalho.

Os ventos da revolução

Na sexta-feira, 4 de fevereiro, na Albânia, prosseguiram as manifestações, que resultaram, há poucos dias, em combates de rua, com mortos e centenas de feridos, para exigir a renúncia do primeiro-ministro e a antecipação das eleições previstas para 2013. Na Sérvia, 20 mil populares acabam de baixar às ruas, exigindo do governo pró-imperialista a antecipação das eleições de 2012, devido ao desemprego e à inflação.

Tudo isso quando o FMI, os burocratas da União Europeia e os governos nacionais europeus preparam-se para aprofundar as políticas anti-sociais de austeridade e de redução de direitos e salários, na Bélgica, Espanha, Grécia, Irlanda, Islândia, Itália, Polônia, Portugal etc. Medidas destinadas a financiar a farra do capital bancário e financeiro que levou à crise de 2008-2009 .

Surgindo das ameaçadoras entranhas do deserto social, o temido simum da revolução que despeja os ares do norte da África esforça-se para sobrepor-se aos ventos neoliberais que avassalam o mundo, desde a vitória histórica da revolução neo-liberal, nos anos 1989-90.

12/2/2011  Fonte: ViaPolítica/O autor

Mário Maestri, 62, é professor do Curso e do Programa de Pós-Graduação em História da UPF.

domingo, 13 de fevereiro de 2011

A crise de hegemonia no Oriente Médio

artigo do sociólogo Emir Sader / Fonte :  Carta Maior


A hegemonia do capitalismo no mundo se assentou na industrialização, que promoveu sua superioridade econômica, com todos os seus outros desdobramentos – tecnológicos, culturais, políticos. Esse processo se apoiou centralmente no petróleo como fonte energética, sem que a Europa ocidental – seu núcleo original – pudesse contar com petróleo.


A hegemonia norteamericana consolidou o estilo de consumo da civilização do automóvel – a mercadoria por excelente do capitalismo norteamericano -, que acentuou o papel do consumo de petróleo. Embora os EUA tivessem petróleo, seu gasto excessivo fez com que suas fontes se aproximassem cada vez mais do esgotamento, além de que o montante que sempre precisaram os fez se somarem aos países que dependem da importação do petróleo.


Estava assim inscrito no estilo de vida ocidental, a dominação dos países árabes, para dispor de petróleo a preços baratos. Esse esquema encontrou seu primeiro grande obstáculo com o surgimento de regimes nacionalistas, em países fundamentais na região, como o Egito e o Irã. Os problemas convergiram na crise de 1973, em que se uniram o aumento do preço do petróleo com a reivindicação do Estado palestino e a oposição dos governos árabes unidos a Israel.


Diante da crise, os EUA passaram a operar em duas direções: intensificar os conflitos que dividissem o mundo árabe – como a guerra Iraque-Irã – e buscar formas de conseguir a presença permanente de tropas norte-americanas na região – obtida a partir da primeira guerra do Iraque.


O enfraquecimento dos governos árabes e da sua unidade interna foi acompanhada da cooptação do governo do Egito – depois da morte de Nasser, primeiro com Sadat (o primeiro a normalizar relações com Israel) e depois com Mubarak, o que fez desse pais o aliado fundamental dos EUA no mundo árabe, recebendo a segunda maior ajuda militar de Washington no mundo, logo atrás de Israel.

A diversificação das fontes de energia – com a importação de gás da Rússia – alivia um pouco a demanda de petróleo, mas incorpora a dependência de um país que tampouco aparece como confiável para a Europa. Mais seguro é o controle político e militar da região pelos EUA, como garantia para a Europa. Os países europeus não participaram das guerras do Iraque – com exceção da Inglaterra -, mas as financiaram, pelos serviços que os EUA lhes prestam.


A eventual perda do Egito como eixo do controle politico da região seria gravíssimo para os EUA – além da queda do ditador aliado na Tunísia e outros desdobramentos em países com governos similares na região. Além de que poderia contribuir decisivamente para romper o isolamento de Gaza, liberando a entrada via Egito, até aqui tão bloqueada como aquela controlada por Israel.

A impotência norteamericana diante das formas tradicionais de intervenção militar confirma a decadência da hegemonia dos EUA, nesse caso em uma região e em um país chaves para seu sistema de dominação. Está claro que Obama já abandonou a possibilidade de sobrevivência de Mubarak, concentrando-se agora numa transição que permita a cooptação de quem vier a sucedê-lo. É um tema aberto, que pelo menos revela que a alternativa aos regimes ditatoriais da região não reside obrigatoriamente em forças islâmicas – argumento utilizado na logica do mal menor de apoio a esses ditadores.


Em condições culturais renovadas, o nacionalismo árabe pode renascer, agora articulando uma nova unidade de governos progressistas, anti-EUA e pro palestinos na região – a pior das possibilidades para Washington -, mas plenamente possível, pela intervenção espetacular dos povos desses países.

sábado, 12 de fevereiro de 2011

Por que temer o espírito revolucionário árabe?

A reação ocidental aos levantamentos no Egito e na Tunísia frequentemente demonstra hipocrisia e cinismo.

Por Slavoj Žižek Fonte : Carta Capital


O que não pode deixar de saltar aos olhos nas revoltas na Tunísia e no Egito é a notável ausência do fundamentalismo islâmico. Na melhor tradição democrática secular, as pessoas simplesmente se revoltaram contra um regime opressivo, a sua corrupção e pobreza, e pediram liberdade e esperança econômica. A sabedoria cínica dos liberais ocidentais - de acordo com os quais, nos países árabes, o genuíno senso democrático é limitado a estreitas elites liberais enquanto que a vasta maioria só pode ser mobilizada através do fundamentalismo religioso ou do nacionalismo - provou-se errada.

Quando um novo governo provisório foi nomeado na Tunísia, ele excluiu os islâmicos e a esquerda mais radical. A reação dos liberais presunçosos foi: bom, eles são basicamente a mesma coisa; dois extremos totalitários - mas as coisas são simples assim? O verdadeiro antagonismo de longa data não é precisamente entre islâmicos e a esquerda? Ainda que eles estejam momentaneamente unidos contra o regime, uma vez que se aproximam da vitória, a sua unidade se parte e eles se lançam numa luta mortal, freqüentemente mais cruel do que aquela travada contra o inimigo comum.

Nós não testemunhamos precisamente tal luta depois das eleições no Irão? As centenas de milhares de apoiantes de Mousavi lutavam pelo sonho popular que sustentou a revolução de Khomeini: liberdade e justiça. Ainda que esse sonho tenha sido utópico, ele levou a uma explosão de criatividade política e social de tirar o fôlego, experiências de organização e debates entre estudantes e pessoas comuns. Essa abertura genuína, que libertou forças de transformação social então desconhecidas, um momento no qual tudo pareceu possível, foi então gradualmente sufocada pela dominação do controle político e do establishment islâmico.

Mesmo no caso de movimentos claramente fundamentalistas, é preciso ser cuidadoso para não perder de vista a componente social. Os talibãs são usualmente apresentados como um grupo fundamentalista islâmico que impõe as suas leis pelo terror. No entanto, quando, na primavera de 2009, eles tomaram o Vale de Swat no Paquistão, o The New York Times noticiou que eles arquitetaram "uma revolta de classe que explora profundas fissuras entre um pequeno grupo de ricos donos de terra e os seus inquilinos desprovidos de um chão". Se, ao "se aproveitar" dos apuros dos agricultores, os talibãs estavam a criar, nas palavras do New York Times, "um alerta sobre os riscos ao Paquistão, que permanece sendo largamente feudal", o que impediu os democratas liberais do Paquistão e dos Estados Unidos de, da mesma forma, "se aproveitarem" desses apuros e de tentarem ajudar os agricultores sem terra? Ocorre as forças feudais no Paquistão serem aliados naturais da democracia liberal?

A conclusão inevitável a ser delineada é que a ascensão do islamismo radical sempre foi o outro lado do desaparecimento da esquerda secular nos países muçulmanos. Quando o Afeganistão é retratado como sendo o exemplo máximo de um país fundamentalista islâmico, quem ainda se lembra que, há quarenta anos atrás, ele era um país com uma forte tradição secular, incluindo um poderoso partido comunista que havia tomado o poder lá sem dependência da União Soviética? Para onde essa tradição secular foi?

É crucial analisar os eventos em andamento na Tunísia e no Egito (e no Iêmen e ... talvez, com esperança, até na Arábia Saudita) em contraste com esse pano de fundo. Se a situação for eventualmente estabilizada de modo ao antigo regime sobreviver, apenas passando por alguma cirurgia cosmética liberal, isso irá gerar um intransponível retrocesso fundamentalista.

Para que o legado chave do liberalismo sobreviva, os liberais precisam da ajuda fraternal da esquerda radical. De volta ao Egito, a mais vergonhosa e perigosamente reação oportunista foi a de Tony Blair noticiada na CNN: mudança se necessário, mas deverá ser uma mudança estável. Mudança estável no Egito, hoje, só pode significar um compromisso com as forças de Mubarak na forma de ligeiramente alargar o círculo do poder. Este é o motivo pelo qual é uma obscenidade falar em transição pacífica agora: pelo esmagamento da oposição, o próprio Mubarak tornou isso impossível. Depois de Mubarak enviar o exército contra os protestantes, a escolha tornou-se clara: ou uma mudança cosmética na qual alguma coisa muda para que tudo continue na mesma, ou uma verdadeira ruptura.
Aqui, portanto, é o momento da verdade: ninguém pode argüir, como no caso da Argélia uma década atrás, que permitir eleições verdadeiramente livres equivale a entregar o poder a fundamentalistas islâmicos. Outra preocupação liberal é de que não existe poder político organizado para tomar o poder caso Mubarak parta. É claro que não existe; Mubarak assegurou-se disso ao reduzir a oposição a ornamentos marginais, de forma que o resultado acaba sendo como o título do famoso romance de Agatha Christie, "E Então Não Havia Ninguém". O argumento de Mubarak - é ele ou o caos - é um argumento contra ele.

A hipocrisia dos liberais ocidentais é de tirar o fôlego: eles publicamente defendem a democracia e agora, quando o povo se rebela contra os tiranos em nome de liberdade e justiça seculares, não em nome da religião, eles estão todos profundamente preocupados. Por que aflição, por que não alegria pelo fato de que se está a dar uma chance à liberdade? Hoje, mais do que nunca, o antigo lema de Mao Ze Dong é pertinente: "Existe um grande caos abaixo do céu - a situação é excelente".

Para onde, então, Mubarak deve ir? Aqui, a resposta também é clara: para Haia. Se existe um líder que merece sentar-se lá, é ele.


* Texto publicado originalmente no jornal Guardian / Traduzido por Henrique Abel para o Diário Liberdade
Nota do Tradutor: o título original do livro de Agatha Christie é "And Then There Were None".

terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

Entenda a crise no Egito

Caos no Egito incita tensões no Oriente Médio; entenda

FONTE : FOLHA DE SÃO PAULO

O ditador Hosni Mubarak, há 30 anos no poder, renunciou nesta sexta-feira em concessão aos 18 dias da maior crise política no Egito nas últimas décadas, com centenas de milhares de egípcios nas ruas pedindo por sua queda.
O fim da ditadura egípcia vem menos de um mês após a queda do governo autoritário da Tunísia ser derrubado pela Revolução do Jasmim, que levou a uma onda de protestos no mundo árabe.

A crise teve início quando um tunisiano ateou fogo a si mesmo, soando um alerta à população, principalmente os jovens, que se revoltaram em meio a altas taxas de desemprego, insatisfação com o regime ditatorial e a corrupção que corrói a região, além da ânsia por democracia e liberdade de expressão.

Nos dias que se seguiram países como Iêmen, Mauritânia, Jordânia e Argélia registraram outros casos de autoimolações, além de violentos protestos exigindo a queda de seus respectivos governantes e reformas imediatas.

Mas foi no Egito, país de importância geopolítica crucial para a região, que os protestos ganharam mais força.
Há mais de duas semanas manifestantes se concentram sobretudo na praça Tahrir, no centro do Cairo, exigindo a saída imediata de Mubarak.

O ditador resiste há 17 dias aos protestos que reúnem milhares de egípcios nas ruas de Cairo e de outras cidades. Os manifestantes exigem reformas democráticas e criticam o alto desemprego e pobreza durante o governo de mão de ferro de Mubarak.

Em uma tentativa de acalmar os manifestantes, Mubarak anunciou dias atrás que não concorrerá às eleições presidenciais de setembro próximo, mas alertou que ficaria no poder até lá para evitar o "caos" no país. Ele mandou ainda seu vice, Omar Suleiman, negociar com a oposição --oferta que foi rejeitada. Os manifestantes exigem que ele deixe o poder antes de iniciar qualquer diálogo.

As declarações causaram grande comoção na praça Tahrir, epicentro dos protestos, onde milhares celebraram uma possível vitória. Diante da comoção, funcionários do governo foram à imprensa negar os boatos e dizer que Mubarak permanece na Presidência.

Embora inicialmente tenham mantido uma postura mais distanciada, os EUA gradativamente aumentaram o tom ao comentar a crise egípcia.

A secretária de Estado americana, Hillary Clinton, destacou logo nos primeiros dias que Washington apoiava "uma transição ordenada" de poder no país.

O presidente, Barack Obama, deixou claro que seu governo apoia um regime democrático no Egito, mas que as reformas necessárias não podem ter ingerência dos EUA e que o povo e o governo egípcios precisam chegar a soluções de forma autônoma.

Dias depois reviu sua postura ao defender, após conversa por telefone com Mubarak, que a transição deveria começar imediatamente. Um pedido aberto de renúncia ao aliado americano, no entanto, não foi feito por nenhum membro do alto escalão de Washington.


Dia 9/02/2011, um dia antes do anúncio do pronunciamento de Mubarak, o vice-presidente americano, Joe Biden, aumentou o tom em conversas com seu colega egípcio, Omar Suleiman, exigindo o fim imediato do estado de emergência no país, em vigor há mais de 30 anos.

Também na quarta-feira o governo Obama foi criticado por republicanos e democratas no Congresso dos EUA pelo desempenho nas crises que atingem a região, com destaque à Tunísia e ao Egito. Os parlamentares julgaram as atitudes de Washington para apoiar as reformas democráticas nos dois países árabes como insuficientes e fracassadas.

"Tanto no Egito quanto no Líbano fracassamos em levar de forma efetiva a ajuda americana para apoiar as forças de paz, pró-democráticas e ajudar a construir instituições fortes, confiáveis, como um baluarte contra a instabilidade que agora se espalha para grande parte da região", disse a representante republicana Ileana Ros-Lehtinen durante audiência no Comitê de Relações Estrangeiras do Congresso, que ela preside.

"Ao invés de sermos proativos, ficamos obcecados com a manutenção de uma estabilidade de curto prazo, personalista, que nunca foi realmente assim tão estável, como demonstram os acontecimentos das últimas semanas", acrescentou.

REFLEXOS NA REGIÃO

A crise ressoa no Ocidente, já que os EUA têm no Egito seu principal aliado no Oriente Médio, além de despertar reações em Israel e no Irã.
A deterioração da situação política no país tende ainda a incitar a tensão no Oriente Médio.

O premiê de Israel, Binyamin Netanyahu, rompeu o silêncio inicial e reiterou nesta semana que teme que a revolução no Egito tome um caráter fundamentalista e faça com que o país se torne um "novo Irã". Ele disse ainda que observa a crise com a preocupação de que um potencial novo regime quebre o acordo de paz assinado entre os dois países em 1979.

O Egito reconhece o Estado de Israel e é visto como um aliado estratégico do país hebreu, apesar de no passado as duas nações já terem travado guerras.

Buscando capitalizar as revoltas como uma possível inclinação do Egito ao fundamentalismo islâmico, o presidente do Irã, Mahmoud Ahmadinejad, disse que o mundo está prestes a ver "uma grande mudança".

"Estamos à beira de grandes mudanças e a missão que temos hoje é muito mais importante do que há cinco ou 20 anos, e o povo iraniano deve explicar o pensamento divino da revolução e apresentá-lo ao mundo", advertiu.

Analistas temem ainda que os confrontos no Egito possam até contaminar a já extramamente conturbada região entre o norte do país e os territórios palestinos.

A passagem de Rafah, entre o Egito e a faixa de Gaza, chegou a ver tiroteios entre militantes egípcios beduínos e as forças de segurança e ao menos 12 morreram.

A península do Sinai, que já foi alvo de disputa entre israelenses e egípcios, recebeu reforços de soldados do Exército do Egito sob autorização do governo de Israel, que tomou a região durante a guerra com o país em 1967.

O movimento islâmico Hamas, que controla a faixa de Gaza desde 2007, enviou tropas à fronteira logo no início da crise, para evitar que palestinos cruzem à península.

Aliado importante dos EUA na região, o rei Abdullah, da Arábia Saudita, onde Ben Ali estaria exilado, minimizou as revoltas no Egito ao classificá-las como "bagunça".

Durante conversa ao telefone com Mubarak, ele denunciou "intrusos" que estariam "bagunçando a segurança e a estabilidade do Egito (...) em nome da liberdade de expressão".

A Arábia Saudita "apoia com todos os seus recursos os governo e o povo do Egito", destacou Abdullah dias atrás.



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Crise no Egito : Especial da BBC BRASIL



Centenas de milhares de egípcios vão às ruas há mais de uma semana para exigir a saída do presidente Hosni Mubarak, que está no poder há quase 30 anos. Em resposta, o presidente já anunciou que não disputará a reeleição, mas que pretende permanecer no poder até que um sucessor seja escolhido.

A BBC Brasil preparou uma série de perguntas e respostas para ajudar você a entender a crise no Egito.

Quem são os manifestantes e o que eles querem?

Os protestos começaram em 25 de janeiro, quando milhares de egípcios se reuniram na Praça Tahrir, no centro do Cairo, depois de uma mobilização realizada pela internet --inspirada no levante da Tunísia-- conclamando um "dia de revolta". A polícia respondeu com gás lacrimogêneo e jatos d'água, mas os manifestantes continuaram no local.
Desde então, protestos em massa têm sido realizados nas principais cidades egípcias --além do Cairo, Alexandria, Suez e Ismaília-- desafiando os toques de recolher impostos pelo governo.

Os protestos foram em sua maioria pacíficos, mas a ONU estima que cerca de 300 pessoas já morreram em confrontos relacionados às manifestações.

Os manifestantes exigem a saída imediata de Mubarak. As multidões acusam o governo de repressão, fraudes eleitorais, corrupção e de ser responsável pela pobreza e pelo desemprego no país. Os participantes também querem garantias de que o filho de Mubarak, Gamal, não será o próximo presidente.


Como Mubarak respondeu?


O presidente foi à televisão na terça-feira, dia 1º, afirmando que não disputará a reeleição no pleito marcado para setembro de 2011. Ele disse que dedicará o resto de seu mandato para garantir uma transição pacífica para seu sucessor.

Mubarak disse ter se oferecido para encontros com todos os partidos políticos, mas alguns deles teriam se recusado a dialogar.

Em seu primeiro discurso após o início dos protestos, feito no dia 28, ele anunciou a demissão de seu gabinete de governo, empossando Ahmed Shafiq como novo primeiro-ministro e Omar Suleiman, ex-chefe da inteligência egípcia, como vice-presidente --cargo que nunca antes havia sido ocupado durante o regime.


Mubarak designou publicamente Shafiq para implementar reformas democráticas e medidas para aumentar o nível de emprego. O presidente também determinou que o novo gabinete - cujos membros ainda não foram nomeados - combata a corrupção e restaure a confiança na economia.

No dia 30, em uma aparente demonstração de força, jatos da Força Aérea egípcia sobrevoaram a Praça Tahrir, onde era realizado mais um protesto. Helicópteros, tanques e blindados também circularam pela cidade, enquanto o acesso à internet foi bloqueado.



Quem são os outros personagens principais?

Não existe uma figura que centralize e lidere a oposição contra Mubarak. Os manifestantes representam uma fatia ampla da sociedade egípcia, dos mais jovens aos mais velhos, dos mais ricos aos mais pobres, seculares e religiosos.

Mohammed ElBaradei, ex-diretor da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) e vencedor do Nobel da Paz, surgiu como um potencial porta-voz da coalizão de movimentos de oposição. Líderes de diferentes grupos teriam iniciado negociações para chegar a uma estratégia comum.

A Irmandade Muçulmana, maior e mais organizado grupo de oposição no Egito, tem se mantido em uma posição discreta durante os protestos, por temor de sofrer retaliações por parte do governo.

Analistas acreditam que as Forças Armadas egípcias sejam um fator decisivo na crise. Até agora, Mubarak - um ex-comandante da Força Aérea - tem o apoio dos militares. No entanto, se os protestos se intensificarem, acredita-se que oficiais de alta patente possam pedir que o presidente deixe o poder.


O que está em jogo?

O Egito é conhecido como um al-dunya, ou "mãe do mundo" em árabe. O que acontece no Cairo tem efeitos decisivos em todo o Oriente Médio.

Desde que chegou ao poder, em 1981, Mubarak tem sido uma figura central na política da região e um importante aliado dos países ocidentais. O Egito é um dos dois únicos países árabes --além da Jordânia-- a ter tratados de paz com Israel.
Se o levante egípcio se transformar em uma revolução, isto pode significar um golpe para o já enfraquecido processo de paz no Oriente Médio e disparar alarmes em outros regimes autocráticos no mundo árabe, dizem analistas.

Há o temor de que extremistas possam aproveitar o vácuo político ou de que grupos islâmicos como a Irmandade Muçulmana cheguem ao poder por meio de eleições livres.

A crise no Egito também tem efeitos nos mercados globais. Os valores das ações caíram nas principais bolsas do mundo, e o preço do petróleo atingiu o valor mais alto em dois anos.

Como a comunidade internacional tem reagido aos protestos?

A pressão internacional está se encaminhando para algum tipo de resolução. Os Estados Unidos, responsáveis por bilhões de dólares em ajuda para o Egito, por pouco não admitiram abertamente que querem a saída de Mubarak.

Em vez disso, o presidente americano, Barack Obama, e a secretária de Estado, Hillary Clinton, pediram uma "transição ordenada" para uma democracia no Egito.

Enquanto isto, líderes da ONU, da Grã-Bretanha, da França e da Alemanha pediram a Mubarak que evite a violência e realize as reformas enquanto os protestos continuem.

Obama manteve contatos com chefes de Estado e de governo como o primeiro-ministro turco, Recep Tayyip Erdogan, o rei da Arábia Saudita, Abdullah, e o primeiro-ministro britânico, David Cameron.



O que deve acontecer agora?

Não há sinal de que os protestos possam acabar, e a maioria dos observadores afirmam que os dias de Mubarak como presidente estão contados.

Vários grupos de oposição estão se oferecendo para negociar com o governo, mas apenas depois que Mubarak sair do poder.

No entanto, o presidente parece estar calculando que pode sair com um saldo positivo da crise e que as suas concessões dividirão os opositores.

O Exército, instituição chave no Egito, indicou que protestos pacíficos serão tolerados e que os seus participantes não serão combatidos.


Revolução, anestesia e incertezas
Clóvis Rossi  janela para o mundo 08/02/2011 Folha SP



O governo egípcio, pela voz do vice-presidente Omar Suleiman, a nova cara da ditadura, está dando por iniciada a transição --e com Mubarak-- ao anunciar a criação de comissões para a reforma da Constituição e até um cronograma para a chegar à democracia.

Se vai funcionar ou não, está por se ver. Na sexta-feira, conforme reportagem desse excelente Samy Adghirni que a Folha despachou para o Cairo, o movimento já dava sinais de cansaço.

Natural: a fila anda (ou a vida continua, escolha a sua frase preferida) e as pessoas têm que continuar sua luta diária para pôr o pão pita na mesa da família.

Não há, pelo menos não no Egito, revolucionários profissionais. Há, sim, anti-revolucionários profissionais, pagos pelo regime, o que complica ainda mais as coisas.

Mesmo assim, nesta terça-feira, a praça Tahrir, uma espécie de QG revolucionário a céu aberto, permanecia lotada. A BBC diz que é a maior manifestação desde o início do movimento.

Ajuda a explicar a tentativa de anestesia, seja qual for a ótica pela qual se olhe. Pelo lado do regime, trata-se, como é óbvio, de ganhar tempo para fazer aumentar o cansaço dos manifestantes e, por extensão, tirar ou reduzir a pressão vinda da rua. Não está funcionando mas é o único movimento possível, fora um banho de sangue.

Pelo lado da parte politicamente estruturada da oposição, para dizer de alguma forma, o que já foi conquistado parece importante embora insuficiente. A desistência de Hosni Mubarak de disputar em setembro mais um mandato e a retirada de seu filho Gamal da lista de eventuais candidatos é o triunfo da revolução, mas em "slow motion".

Depois do ímpeto que alcançaram as manifestações, parece que a rua quer pressionar o "fast forward". A ver.

De parte dos Estados Unidos, as mensagens emitidas são contraditórias. O enviado especial de Obama, Frank Wisner, disse que a transição deveria dar-se com Mubarak. Houve desmentidos posteriores, mas o regime egípcio não os levou em consideração. Afinal, é pouco razoável que o enviado especial de um governo dê palpites pessoais, em vez de oficiais, mais ainda em uma conjuntura volátil como esta e em uma região permanentemente volátil como é o Oriente Médio.

O presidente Barack Obama voltou ao mantra de "transição agora", que é muito simpático, pelo menos para o meu gosto, mas também algo irrealista.

Para quem entregar as chaves do Palácio? A oposição não tem um líder que seja plenamente aceito pelos diferentes grupos e menos ainda pelos jovens que lançaram e continuam liderando os protestos.

A Europa, por sua vez, está completamente tonta, sem saber direito o que fazer, em um momento em que "seu futuro está em jogo", segundo um dos acadêmicos mais ouvidos no continente, Timothy Garton Ash, em artigo para "El País".

Esse catedrático de Estudos Europeus da Universidade de Oxford lembra: "O arco em que se está produzindo a crise árabe, desde o Marrocos até a Jordânia, é o vizinho do lado da Europa. E decênios de migrações fazem com que os jovens árabes que gritam irados nas ruas do Cairo, Túnis e Amã tenham primos em Madri, Paris e Londres".

Pode-se gostar ou não das posições europeia e norte-americana (ou da ausência delas), mas é forçoso reconhecer que o Ocidente está diante do que o jornalista francês Jean-Marie Colombani, ex-chefe de redação do "Monde", chama de "contradição fundamental" suscitada pelos acontecimentos: "De um lado, o tripé autoritarismo-estabilidade-garantia dos equilíbrios internacionais; do outro, liberdade, coerência de valores e incertezas".

Está diante também de algo que o mais famoso colunista norte-americano, Thomas Friedman, confessa na coluna do "New York Times" de terça-feira jamais ter visto em seus 40 anos escrevendo sobre Oriente Médio. Friedman foi correspondente primeiro em Beirute, depois em Jerusalém, périplo que resultou no livro "De Beirute a Jerusalém", indispensável para qualquer um que queira ser jornalista mas também para quem queira entender melhor uma região extremamente complexa.

Esse ineditismo abre, como é óbvio, o espaço para a incerteza apontada por Colombani. Mas, já que as certezas oferecidas pelos autoritarismos estão ruindo, viva a incerteza.

Afinal, como escreveu nesta terça-feira para "El País" o filósofo francês André Glucksmann: "Jamais deve-se lamentar a queda de um tirano".

Quanto ao ritmo da transição, cito de novo Glucksmann: "Levemos em conta que, no Egito, há cerca de 40% de mortos de fome e uns 30% de analfabetos. Isso faz com que a democracia seja difícil e frágil, mas não impossível, porque, caso contrário, os parisienses não teriam jamais tomado a Bastilha".

Bingo.

Obama não quer Brasil no Conselho da ONU

Fonte : O Estado de São Paulo  06 de fevereiro de 2011

Segundo diplomata americano, presidente é contra entrada do País como membro permanente e evitará falar sobre o tema em sua visita em março

Denise Chrispim Marin - O Estado de S.Paulo

O presidente dos EUA, Barack Obama, não deverá trazer seu apoio à entrada do Brasil no Conselho de Segurança da ONU como membro permanente durante sua visita ao País, em março. A Casa Branca e a diplomacia americana trabalham para contornar inevitáveis e constrangedoras perguntas da imprensa e para não prejudicar seu projeto de relançar as relações bilaterais.

Larry Downing/Reuters

Recomeço. Obama pretende relançar relações com Brasil

Segundo uma fonte do Departamento de Estado, a mudança na posição de Washington é uma possibilidade remota. Seria um "milagre". Para o governo americano, o Brasil cometeu um "pecado mortal" ao votar contra a resolução do Conselho de Segurança sobre novas sanções ao Irã, em junho.

Posição brasileira. A iniciativa brasileira teria sido mais grave que a insistente busca pelo acordo nuclear com o Irã porque "comprometeu a própria credibilidade do sistema" e deu mostras da contaminação das decisões mais sensíveis de política exterior do País pela personalidade do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e do ex-chanceler Celso Amorim. "Foi uma burrada", disse a fonte.

Para o Departamento de Estado, ainda não está claro se o governo de Dilma Rousseff, como continuidade da administração Lula, preservará a mesma linha de ação na área externa.

Essa dúvida começará a ser dirimida no dia 23, quando o chanceler Antônio Patriota fará sua primeira visita à secretária de Estado dos EUA, Hillary Clinton, em Washington.

Essa será a primeira oportunidade de diálogo entre EUA e Brasil sobre o passo anterior - a reforma do Conselho de Segurança, que permanece engavetada na ONU.


CS ONU
http://super.abril.com.br/tecnologia/conselho-seguranca-onu-446468.shtml
Brasil quer a reforma do CS ONU
http://blog.planalto.gov.br/no-comando-do-conselho-de-seguranca-da-onu-brasil-mantem-opcao-por-reforma/

Conheça as propostas de reforma do CS ONU
http://www.bbc.co.uk/portuguese/reporterbbc/story/2005/09/050909_csonuaw.shtml

CS foi criado para assegurar paz e segurança no mundo
http://www.bbc.co.uk/portuguese/reporterbbc/story/2005/09/050909_cshistoriaaw.shtml
 
 





quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

Atividade de Interpretação

Epitáfio para o século XX
Affonso Romano de Sant'Anna
1.

Aqui jaz um século
onde houve duas ou três guerras
mundiais e milhares
de outras pequenas
e igualmente bestiais.

2.

Aqui jaz um século
onde se acreditou
que estar à esquerda
ou à direita
eram questões centrais.

3.

Aqui jaz um século
que quase se esvaiu
na nuvem atômica.
Salvaram-no o acaso
e os pacifistas
com sua homeopática
atitude
-nux vômica.

4.

Aqui jaz o século
que um muro dividiu.
Um século de concreto
armado, canceroso,
drogado,empestado,
que enfim sobreviveu
às bactérias que pariu.

5.

Aqui jaz um século
que se abismou
com as estrelas
nas telas
e que o suicídio
de supernovas
contemplou.
Um século filmado
que o vento levou.

6.

Aqui jaz um século
semiótico e despótico,
que se pensou dialético
e foi patético e aidético.
Um século que decretou
a morte de Deus,
a morte da história,
a morte do homem,
em que se pisou na Lua
e se morreu de fome.

7.

Aqui jaz um século
que opondo classe a classe
quase se desclassificou.
Século cheio de anátemas
e antenas,sibérias e gestapos
e ideológicas safenas;
século tecnicolor
que tudo transplantou
e o branco, do negro,
a custo aproximou.

8.

Aqui jaz um século
que se deitou no divã.
Século narciso & esquizo,
que não pôde computar
seus neologismos.
Século vanguardista,
marxista, guerrilheiro,
terrorista, freudiano,
proustiano, joyciano,
borges-kafkiano.
Século de utopias e hippies
que caberiam num chip.

9.

Aqui jaz um século
que se chamou moderno
e olhando presunçoso
o passado e o futuro
julgou-se eterno;
século que de si
fez tanto alarde
e, no entanto,
-já vai tarde.

10.

Foi duro atravessá-lo.
Muitas vezes morri, outras
quis regressar ao 18
ou 16, pular ao 21,
sair daqui
para o lugar nenhum.

11.

Tende piedade de nós, ó vós
que em outros tempos nos julgais
da confortável galáxia
em que irônico estais.
Tende piedade de nós
-modernos medievais-
tende piedade como Villon
e Brecht por minha voz
de novo imploram. Piedade
dos que viveram neste século
per seculae seculorum.


Textos de apoio -Não obrigatórios

2- “A hegemonia, da forma como a entendo, envolve liderança, capacidade de mobilizar outros países de acordo com uma agenda particular. Em outras palavras, significa fazer com que os outros países acreditem em um consenso em torno desse líder, na sua capacidade de agir em favor do interesse dos liderados. Nesse sentido, os Estados Unidos não são mais hegemônicos. Por enquanto, são a maior economia, e aquela com o maior aparato militar. E é precisamente por isso que podem dominar: porque têm um impacto sobre o mundo muito maior do que qualquer outra nação. Esse domínio, contudo, não significa que os outros países necessariamente seguirão sua liderança. Na verdade, eles não a seguem mais. Os Estados Unidos permanecerão dominantes, mas não aptos a liderar o mundo como fizeram, por exemplo, ao final da Guerra Fria. Naquele período, eles eram capazes não só de criar alianças políticas e combinações, mas também tinham o poder de induzir europeus e japoneses a superar antigas diferenças com o objetivo de reconstruir a economia mundial. Agora, os Estados Unidos não têm mais o poder para exercer a liderança rumo à reconstrução. É assim que eles têm o domínio sem a hegemonia. “Giovanni Arrighi, professor de Sociologia da Universidade Johns Hopkins, em Baltimore
3- “Assim como nos últimos anos entraram na moda certos produtos light – o tabaco, algumas bebidas e certos alimentos –, também se foi gerando um tipo de homem que poderia ser qualificado como o homem light.
Qual é o seu perfil psicológico? Como poderia ser definido? Trata-se de um homem relativamente bem informado, porém com escassa educação humana, entregue ao pragmatismo, por um lado, e a bastantes lugares comuns, por outro. Tudo lhe interessa, mas só a nível superficial; não é capaz de fazer a síntese daquilo que recolhe e por conseguinte, foi-se convertendo num sujeito trivial, vão, fútil, que aceita tudo mas que carece de critérios sólidos na sua conduta. Nele tudo se torna etéreo, leve, volátil, banal, permissivo. Presenciou tantas mudanças, tão rápidas e num tempo tão curto, que começa a não saber a que ater-se ou, o que é o mesmo, faz suas afirmações como «tudo vale», «tanto faz» ou «as coisas mudaram».”
Henrique Rojas - “O Homem Light. Uma Vida sem Valores”

4- “Somos todos pós-modernos?
A resposta é sim se comungamos essa angústia, essa frustração frente aos sonhos idílicos da modernidade. Quem diria que a revolução russa terminaria em gulags, a chinesa em capitalismo de Estado; e tantos partidos de esquerda assumiriam o poder como o violinista que pega o instrumento com a esquerda e toca com a direita? Nenhum sistema filosófico resiste, hoje, à mercantilização da sociedade: a arte virou moda; a moda, improviso; o improviso, esperteza. As transgressões já não são exceções, e sim regras. O avanço da tecnologia, da informatização, da robótica, a gloogleatização da cultura, a telecelularização das relações humanas, a banalização da violência, são fatores que nos mergulham em atitudes e formas de pensar pessimistas e provocadoras, anárquicas e conservadoras.” Frei Betto Escritor e assessor de movimentos sociais [Autor de "Calendário do Poder" (Rocco), entre outros livros].

5- “A modernidade representou uma dominação da razão. Em contraparte, a pós-modernidade representou o retorno de uma pluralidade, ou seja, também um retorno da emoção, da 'magia', da afetividade. Enfim, uma volta do que se perdeu na modernidade, que tentou racionalizar todos esses aspectos. [...]- Não faço uma crítica unicamente aos marxistas. Faço uma crítica aos marxistas e aos positivistas. Pois tanto uns quanto os outros, continuam presos ao esquema analítico do século 19. O legado desse esquema analítico é o racionalismo. Mas não quero fazer só uma crítica da razão e do racionalismo. Quero completar a razão com o sensível.” Michel Maffesoli , sociólogo, autor : MODERNIDADE X PÓS-MODERNIDADE, "Elogio da Razão Sensível"

6- “(...) Outros adotaram a mística do pós-modernismo, que se esforça para cultivar a ignorância da história e da cultura modernas e se manifesta como se todos os sentimentos humanos, toda a expressividade, atividade, sexualidade e senso de comunidade acabassem de ser inventados – pelos pós-modernistas – e fossem desconhecidos, ou mesmo inconcebíveis até a semana passada. “

Marshall Berman autor de “Tudo que è sólido desmancha no ar – A aventura da modernidade”

Roteiro de Estudos – Atualidades : Apresentação do curso



– Prof Milton – Educon



A Natureza das Atualidades / A questão do olhar



1- As bases históricas do mundo contemporâneo: as heranças do Séc. XX

2- Os grandes organismos internacionais : FMI, OMC e ONU, evolução histórica e panorama atual

3- Conceitos: Pós-Moderno e Nova Ordem Mundial

4- Atualidades e suas fontes : a questão da mídia

5- Hegemonia ou Multipolaridade : O poder no Séc XXI

6- Blocos Regionais : União Européia, NAFTA, MERCOSUL, ALBA,UNASUL, etc

7- Ricos e Pobres : os Fóruns de Davos e Porto Alegre

8- O Humor como ferramenta : Interpretando charges e afins.





A questão do olhar.



Diferentemente das disciplinas clássicas, tradicionais do Ensino Médio, o campo da ‘Atualidades’ na verdade nelas se apóia e também dialoga com os mais vários elementos de diversas áreas do saber.

Assim torna-se obrigatório que antes de iniciarmos a abordagem dos temas propriamente ditos, atentemos para a forma pela qual o ‘mundo atual’ se apresenta à nossa compreensão e como o percebemos.

Neste plano é necessário que além de definirmos os possíveis temas e assuntos que estudaremos, façamos uma breve reflexão acerca das formas pelas quais o conhecimento e as informações nos são apresentadas.

Para tanto iniciamos os encontros chamando a atenção para a oportuna herança a nós legada por dois grandes artistas,um brasileiro e um francês : Artur Bispo do Rosário e Marcel Duchamp. Dois mestres reconhecidos internacionalmente por suas contribuições acerca das perspectivas pelas quais nos apropriamos das impressões do mundo.

Bispo do Rosário, pra alguns louco, pra muitos gênio, acreditava ter recebido uma missão divina e assim como missionário de Deus teria de reproduzir o mundo que vivia, condição que o coloca próximo ao intento de quem deseja entender o mundo atual e ironicamente perto de nosso intento. E nesta ‘missão’ Rosário produz a partir de sucata, objetos que acabaram sendo reconhecidos bem depois como genuína arte surpreendentemente afinada com as mais badaladas tendências da vanguarda. Atento ao cotidiano, tal qual nós observadores da Atualidade também devemos estar, Bispo do Rosário conseguiu de forma particular ‘driblar’ todo um contexto que o excluía e de forma extremamente criativa e ousada ler e re-elaborar a realidade que se apresentava de forma absoluta, manipulando signos e informações.

Como referência deste artista, o registro de que ele possuiu a honra de ocupar o salão nobre da exposição ‘Brasil 500 anos’, importante mostra que procurou reunir elementos dos mais variados campos da cultura brasileira em toda sua história.



Links :

http://www.itaucultural.org.br/AplicExternas/enciclopedia_IC/index.cfm?fuseaction=artistas_biografia&cd_verbete=568&cd_idioma=28555&cd_item=1

http://pt.shvoong.com/humanities/1768645-arthur-bispo-ros%C3%A1rio-biografia/

http://portalliteral.terra.com.br/artigos/arthur-bispo-do-rosario-o-ilustre-desconhecido

http://pt.wikipedia.org/wiki/Bispo_do_Ros%C3%A1rio



Tal como Bispo do Rosário, Marcel Duchamp, nosso outro artista de referência, também é exótico e rico de significados para a relação com a realidade e a compreensão da ‘Atualidade’. De inspiração impressionista, expressionista e cubista, marca do início do século passado, Duchamp ainda é referência obrigatória para uma melhor abordagem da estrutura cultural de nosso tempo, a partir de suas contribuições que, se podem ser aqui reduzidas, representaram na verdade uma radical crítica a própria relação comum que tínhamos até então com a obra de arte, propondo e exercitando uma nova forma de se olhar as coisas, uma perspectiva artística que nos leve além do eixo bom x mal gosto, mas aponte para significados mais complexos e profundos de nossa apreensão da realidade. Assim com Rosário, outro bom exemplo de possibilidades úteis e apropriadas para a compreensão de um mundo tal qual se nos apresenta nos dias atuais.



Links :

http://educacao.uol.com.br/biografias/Marcel-Duchamp.jhtm

http://www.suapesquisa.com/biografias/marcel_duchamp.htm

http://pt.wikipedia.org/wiki/Marcel_Duchamp







As bases históricas do mundo contemporâneo: as heranças do Séc. XX, o Fim 2a Guerra

http://www.brasilescola.com/historiag/acordo-de-paz-segunda-guerra.htm

http://www.blogers.com.br/fim-da-segunda-guerra-mundial/



Energia Nuclear : A Bomba Atômica

http://www.historianet.com.br/conteudo/default.aspx?codigo=193



A Guerra do Vietnã

http://www.historianet.com.br/conteudo/default.aspx?codigo=56

Muro de Berlim

http://educaterra.terra.com.br/voltaire/mundo/muro.htm

http://www.suapesquisa.com/pesquisa/queda_muro_berlim.htm

Os grandes organismos internacionais : FMI, OMC e ONU, evolução histórica e panorama atual

60 anos da ONU

http://www.historianet.com.br/conteudo/default.aspx?codigo=779

ONU

http://www.onu-brasil.org.br/

FMI

http://www.brasilescola.com/geografia/fmiebancomundial.htm

OMC

http://www.brasilescola.com/geografia/omc.htm

Conceitos: Pós-Moderno e Nova Ordem Mundial

http://posmoderno.sites.uol.com.br/

http://www.cefetsp.br/edu/eso/lourdes/oqueposmodernojair.html

http://www.frigoletto.com.br/GeoPol/anova.htm

Atualidades e suas fontes : a questão da mídia

http://www.observatoriodaimprensa.com.br/

http://www.cartacapital.com.br/app/index.jsp

http://carosamigos.terra.com.br/

http://www.viomundo.com.br/

www.conversaafiada.com.br

Hegemonia ou Multipolaridade : O poder no Séc XXI

http://www.integral.br/zoom/materia.asp?materia=327&pagina=5

http://www.reservaer.com.br/biblioteca/e-books/reflexao3/pg04.html

http://www.cartamaior.com.br/templates/postMostrar.cfm?blog_id=1&post_id=16

http://jogligidel.tripod.com/multipolaridade.html

http://www.coladaweb.com/geografia/equilibrio-mundial,-bipolaridade-e-multipolaridade

Blocos Regionais : União Européia, NAFTA, MERCOSUL, ALBA,UNASUL, etc

http://www.suapesquisa.com/blocoseconomicos/

http://europa.eu/index_pt.htm

http://www.mundovestibular.com.br/articles/334/1/UNIAO-EUROPEIA---UE/Paacutegina1.html

http://www.suapesquisa.com/geografia/nafta.htm

http://www.brasilescola.com/geografia/alca.htm

http://www.alianzabolivariana.org/

www.mercosul.gov.br/

Ricos e Pobres : os Fóruns de Davos e Porto Alegre

http://fsm10.procempa.com.br/wordpress/

O Humor como ferramenta : Interpretando charges e afins.

http://www2.uol.com.br/josesimao/

www.chargeonline.com.br/

http://charges.uol.com.br/

http://www.band.com.br/cqc/

http://www.redetv.com.br/paniconatv/