terça-feira, 17 de abril de 2007

Cratera Metrô Pinheiros

Autofagia à paulista
por Ana Paula Sousa e Sergio Lirio

A cratera do Metrô é o símbolo do impulso autodestrutivo de São Paulo



São Paulo não pára. São Paulo, a locomotiva do Brasil. São Paulo, terra de oportunidades. São Paulo, a cidade que mais cresce no mundo. O que os slogans da maior aglomeração urbana da América do Sul, amontoado de gente, carro e concreto que um dia se pareceu com uma cidade, traduzem neste início de século? Nada. Essa São Paulo operosa, individualista e antiestatal, convicta de que suas mazelas resultam exclusivamente da "corrupção de Brasília" e da "incompetência da porção Norte do País", foi confrontada com sua imagem real na sexta-feira 12.

Passava um pouco das 3 da tarde quando um deslizamento de terra nas obras da estação Pinheiros da Linha 4 do Metrô, na zona oeste, abriu uma cratera de 40 metros de diâmetro às margens da Marginal, destruiu casas, tragou veículos e deixou um saldo de sete mortos. As chuvas e o risco de novos desabamentos têm atrasado os trabalhos de resgate. No início da noite da quinta-feira 18, os bombeiros conseguiram descolar a minivan que atrapalhava as escavações. Mais dois corpos foram retirados. Outras duas vítimas continuavam soterradas nos escombros.

Do ponto de vista técnico, só as perícias, que devem demorar no mínimo quatro meses para ser concluídas, poderão apontar com precisão as causas do desastre. Boa parte das especulações feitas no calor dos acontecimentos será, obviamente, descartada. Mas, a despeito dos laudos periciais, focados em apontar os motivos do acidente na estação Pinheiros, sobram indícios de que as obras do Metrô, realizadas ao longo de 13 quilômetros, levaram ao extremo a lógica que moldou a expansão urbana de São Paulo nas últimas décadas: transferência do controle para a iniciativa privada, desmonte do aparato de fiscalização do poder público e falta de transparência. Trata-se, portanto, de uma questão que transcende o socorro aos mortos e familiares e aos moradores que perderam casas e bens.

A licitação da Linha 4, feita sob a égide das Parcerias Público-Privadas (PPPs), foi saudada pelo ex-governador e então candidato à Presidência Geraldo Alckmin como exemplo dos 12 anos de "boa gestão" tucana no estado. Após a tragédia, Alckmin optou pelo silêncio. Deixou o pepino no colo do sucessor, o correligionário José Serra.

"Houve inúmeros sinais de graves falhas na construção, como rachaduras em casas e afundamento dos terrenos. Todos esses indícios foram tratados com desprezo. Em obras subterrâneas devem imperar a segurança e a boa técnica, não os impulsos para gerar lucro. Mas parece que o modelo escolhido privilegia os ganhos", avalia o engenheiro Álvaro Rodrigues dos Santos, ex-diretor de Planejamento do Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT).

Santos refere-se ao tipo de contrato adotado na licitação. Por exigência do Banco Mundial, um dos financiadores do projeto, seguiu-se o modelo turn key, pelo qual se contrata a empreitada em pacote fechado. Neste caso, estabelece-se um valor total e o consórcio vencedor é obrigado a concluir o trabalho dentro da planilha de custos definida na licitação. A vantagem é a impossibilidade de se fazerem aditivos contratuais ao longo da construção, o que evita gastos adicionais, às vezes absurdos, do poder público. Em tese, também ajuda a diminuir a corrupção.

A primeira desvantagem diz respeito à limitação de interferência do poder público. Apesar de os técnicos do Metrô terem acesso a laudos e relatórios das obras, o controle da qualidade é feito pelas próprias construtoras. A segunda tem relação com o equilíbrio financeiro do projeto. Executivos de duas grandes empreiteiras não participantes do consórcio que administra as obras do Metrô apontaram a CartaCapital um efeito colateral. Como é impossível fazer aditivos, as construtoras assumiriam riscos de gastos adicionais não previstos no projeto inicial. A tendência, dizem, é compensar esse risco com a economia nos gastos de material e mão-de-obra. Isso para aumentar ou manter a rentabilidade estabelecida por contrato.

"A própria realidade mostrou o que deveria ter sido feito: a demarcação de uma área maior que o próprio buraco, incluindo desapropriações dos imóveis nessa área mais o eventual desvio da Marginal", diz o arquiteto e urbanista Raymundo de Paschoal, professor da Faculdade de Belas Artes. "Mas as empresas não deram atenção ao entorno."

O consórcio da Linha 4 é formado por cinco das maiores construtoras brasileiras: OAS, Andrade Gutierrez, Odebrecht, Queiroz Galvão e Camargo Corrêa. Também integram o grupo duas multinacionais fornecedoras de equipamentos, a francesa Alstom e a alemã Siemens. Engenheiros de uma das empreiteiras, ligados diretamente às obras, afirmaram a CartaCapital que não foi feita nenhuma economia que implicasse riscos. Ao contrário. Segundo eles, por causa da instabilidade do terreno onde fica a estação, o consórcio optou por reforçar as estruturas de sustentação. Uma das medidas foi aplicar arcos de aço sob o concreto, chamadas cambotas, o que não estava previsto no projeto original desenhado pela área técnica do Metrô.



14/01/2007 - 14h27

Entenda como aconteceu o desabamento nas obras do metrô em SP

da Folha de S.Paulo
da Folha Online

Um canteiro de obras da futura estação Pinheiros da linha 4-amarela do metrô, na zona oeste de São Paulo, desabou na tarde de sexta-feira (12). O acidente, de acordo com as construtoras responsáveis pela obra, ocorreu devido à instabilidade do solo da região, agravada pelas fortes chuvas que atingiram a cidade dias antes.

Saiba como foi o desabamento:


Editoria de Arte/Folha




26/01/2007 - 10h07

IML libera corpo da 7ª vítima de desabamento; bombeiros finalizam busca

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da Folha Online

O corpo do office-boy Cícero da Silva, 60, sétima vítima do desabamento ocorrido no último dia 12 nas obras da estação de metrô Pinheiros (zona oeste de São Paulo), será enterrado na tarde desta sexta-feira. O corpo foi oficialmente reconhecido por parentes durante a madrugada e liberado pelo IML (Instituto Médico Legal).

A vítima foi localizada por volta das 21h de quinta (25), duas semanas depois do acidente, com ajuda de duas cadelas farejadoras.

Os documentos de Silva foram encontrados ao lado do corpo, que estava a cerca de cinco metros abaixo do local onde os bombeiros encontraram um microônibus com quatro vítimas, segundo a assessoria de imprensa da Secretaria da Segurança Pública.

Rogerio Cassimiro/Folha Imagem




Carro do IML remove corpo da sétima vitima do desabamento nas obras do metrô




Com a localização do sétimo corpo, as equipes de resgate finalizaram as buscas, mas deverão permanecer na cratera aberta com o desabamento para evitar riscos de novos deslizamentos e garantir a segurança dos operários da obra.

Vítimas

Silva havia desaparecido no dia 12, quando ocorreu o acidente. Apesar de familiares afirmarem que ele poderia ter sido soterrado, a polícia, oficialmente, dizia ter informações de seis vítimas e investigava o paradeiro do office-boy.

Na quarta-feira (24) o DHPP (Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa), anunciou a conclusão do inquérito do desaparecimento e admitiu que Silva poderia estar sob os escombros.

Segundo o delegado Domingos Paulo Neto, o depoimento de uma testemunha que trabalha no edifício Passareli foi crucial para identificar os últimos passos da vítima.

Para descobrir o paradeiro de Silva, a polícia rastreou as ligações de dois celulares que ele usava. No dia do acidente ele saiu de Perdizes (zona oeste), onde morava, entre 9h e 9h30 sem dizer a família aonde ia. Às 13h, manteve contato com comerciantes da avenida Alfonso Bovero. Eles disseram que Silva ia para Pinheiros.

Às 13h25 ele recebeu uma ligação que durou 27 segundos, captada pela ERB (Estação Rádio-Base) da rua Cotoxó, na qual comentou com o interlocutor que iria para Pinheiros. Pouco depois, encontrou um amigo em um ônibus. Ele desceu em um ponto de ônibus da avenida Doutor Arnaldo e falou a um conhecido que iria para Pinheiros. Uma outra testemunha também disse que ele iria para o bairro.

Robson Ventura/Folha Imagem




As cadelas farejadoras que auxiliaram a localizar vítimas do desabamento




Outras vítimas

Outros seis corpos foram retirados dos escombros na primeira semana após o acidente. As buscas por Silva começaram no dia 20, depois que as cadelas farejadoras dos bombeiros apontaram a possibilidade de haver mais uma vítima no local.

O primeiro corpo a ser retirado dos escombros foi o de Abigail Rossi de Azevedo, 75, que caminhava pela região do acidente quando a cratera se abriu. Os bombeiros resgataram em seguida o corpo de Valéria Alves Marmit, 37, que ocupava o microônibus soterrado.

Depois, foram localizados e resgatados os corpos do motorista Francisco Sabino Torres, 41, que trabalhava na obra, e dos demais ocupantes do lotação: o motorista Reinaldo Aparecido Leite, 40, o cobrador Wescley Adriano da Silva, 22, o funcionário público Marcio Rodrigues Alambert, 31.

Consórcio

A Defesa Civil interditou 55 imóveis nas imediações da cratera --cinco foram demolidos. Cerca de 120 moradores das casas interditadas hospedaram-se em hotéis com diárias pagas pelo Consórcio Via Amarela, responsável pela construção da linha 4 do Metrô.

O Consórcio Via Amarela é liderada pela Odebrecht, a maior construtora do país, e integrado por OAS, Queiroz Galvão, Camargo Corrêa e Andrade Gutierrez. Um grupo poderoso, que financiou as principais campanhas eleitorais do Estado de São Paulo.

Nas eleições do ano passado, as construtoras do consórcio buscaram agradar os dois lados da disputa com doações milionárias. A campanha do governador José Serra (PSDB) recebeu R$ 1,7 milhão das empresas OAS, Camargo Corrêa e Odebrecht. O principal adversário de Serra nas eleições, Aloizio Mercadante (PT), também não foi esquecido: ganhou R$ 500 mil de Camargo Corrêa e Odebrecht.

Causas do acidente

A Secretaria da Segurança Pública informou que a 4ª Delegacia Seccional elabora uma cronologia de todo o acidente, com base no depoimento de testemunhas.

A cronologia, de acordo com a Segurança, será elaborada juntamente com técnicos do IPT (Instituto de Pesquisas Tecnológicas) e com peritos do Instituto de Criminalística.

Victor R. Caivano/AP




Cratera deixada pelo desabamento nas obras da linha 4 do metrô de São Paulo




De acordo com a Segurança, as investigações verificaram imagens gravadas por câmeras de segurança do edifício Passarelli, vizinho à obra, na tentativa de identificar possíveis testemunhas.

Indenização

Foi firmado na quarta-feira (24) o primeiro acordo para pagamento de indenização a uma pessoa morta no desabamento. O acordo beneficia os três filhos --dois gêmeos de 11 anos e uma jovem de 18-- de Valéria Alves Marmit.

Entre as seis pessoas mortas no acidente, os parentes de Marmit foram os únicos a utilizar a Defensoria Pública de São Paulo. Os demais têm advogados particulares e, por isso, não há previsão de acordo.

O montante não foi divulgado por questões de segurança e para preservar a privacidade de família, segundo a Secretaria Estadual de Justiça de São Paulo. O acordo inclui uma quantia referente a danos morais e a lucros cessantes --um cálculo estimado dos ganhos mensais que Marmit teria e de quantos anos ela ainda viveria.

Um comentário:

Unknown disse...

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