terça-feira, 8 de maio de 2007

Papado Tradição e História

Assunto: 199ª Edição (22 de abril) por Renato Pompeu
Data: 22 Apr 2005 11:19:54 -0300
De: "Caros Amigos"
Papado: tradição e história

por Renato Pompeu


A tradição diz que os papas da Igreja Católica Romana se sucederam ininterruptamente
desde São Pedro, o primeiro bispo de Roma, que recebeu de Jesus Cristo a
missão de fundar a Igreja. A tradição, mas não a história, pois o Novo Testamento
não indica que São Pedro tenha jamais ido a Roma, embora nele São Paulo relate
os primeiros tempos dos cristãos em Roma.

Além disso, o próprio nome “papa” não é de origem romana – vem do grego “papas”,
que significa “pai” (“pater”, em latim). E a própria Igreja Católica também
não é de origem romana, e sim grega. “Igreja”, em grego, quer dizer “Assembléia”;
e “Católica” significa “Universal”. Assim, se a Igreja Católica fosse de
origem romana, seria chamada de Assembléia Universal e não pelo seu nome
tão conhecido.

“Igreja” ou assembléia indicava o que hoje se chama de congregação, os fiéis
que freqüentavam o mesmo templo cristão. Em cada localidade, nos primeiros
tempos, os fiéis se reuniam para escolher uma pessoa com autoridade, chamada
de bispo, nome que também vem do grego. Havia praticamente um bispo em cada
cidade importante e um não era superior ao outro; todos eles eram chamados
pelos fiéis de “papa”, significando pai.

Com o tempo, os bispos de algumas cidades mais importantes, num total de
sete, no Oriente Médio (por exemplo, Jerusalém), na Grécia (por exemplo,
Antioquia), no Egito (Alexandria) e Roma, foram sendo chamados de patriarcas,
espécie de superiores dos bispos, como os atuais arcebispos.

Os sete patriarcas eram hierarquicamente iguais entre si; o bispo e patriarca
de Roma, no entanto, por estar na mesma cidade do imperador e ter acesso
a ele, era mais solicitado pelos fiéis para resolver questões relacionadas
com o governo. Quando a sede do Império Romano se mudou para Constantinopla,
hoje Istambul, o bispo e patriarca de lá é que passou a ser mais solicitado
para questões delicadas com os governantes.

Durante esse período o imperador Constantino proclamou o cristianismo como
religião oficial do império e foram sendo eliminadas a ferro e fogo todas
as outras religiões, menos a judaica, que foi poupada para corroborar que
a vinda do Messias tinha sido prevista no Velho Testamento.

A ascendência do bispo e patriarca de Roma voltou a crescer depois que o
Império foi dividido em Império Romano do Oriente e Império do Ocidente.
Como patriarca, o bispo de Roma só tinha jurisdição sobre o Ocidente, ou
seja, sobre a Europa Ocidental.
O Império Romano do Ocidente chegou ao fim, com a invasão dos chamados bárbaros,
e o bispo de Roma e patriarca do Ocidente passou, além de autoridade espiritual,
também para autoridade temporal, além de ficar sem contatos com a Igreja
no Império Romano Oriental e com os patriarcados em território islâmico.

Foi assim que surgiu a Igreja Católica Romana separada das outras. De vez
em quando eram restabelecidos os contatos com a Igreja Católica Grega, mas,
quando houve o cisma, a Igreja oficial, como o próprio nome diz, era a Igreja
Católica Ortodoxa, sendo portanto heterodoxa a Igreja Católica Romana.

A Igreja Católica Romana, como a conhecemos hoje, com sua lista de sucessão
de papas desde São Pedro, seu celibato clerical, a nomeação de bispos pelo
papa (e não mais eleição pelos fiéis), a indicação de cardeais pelo papa
e a eleição do papa pelos cardeais, começou a surgir depois de mil anos de
sua história. O papa teve poder temporal até 1870, quando a unificação da
Itália extinguiu os Estados Pontifícios, que ocupavam o centro da Itália.
Só em 1929, por um acordo com o governo Mussolini, é que surgiu a Cidade-Estado
do Vaticano e o papa voltou a ser soberano temporal.


Renato Pompeu é jornalista e escritor.

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