domingo, 20 de maio de 2007

Chavez quer que Papa peça desculpas por "Holocausto"

19 de maio de 2007 - 01:36 Fonre Jornal O Estado de São Paulo
Chávez quer que Papa peça desculpas por "Holocausto"
O governante revelou que esteve "muito atento a tudo o que o Papa disse" no Brasil
EFE

CARACAS - O Papa Bento XVI deve pedir desculpas por ter negado, em sua recente visita ao Brasil, "o Holocausto" contra os indígenas da América, disse neste sábado, 19, o presidente da Venezuela, Hugo Chávez.
"Aqui aconteceu algo muito mais grave que o Holocausto na Segunda Guerra Mundial e ninguém pode negar essa verdade. Sua Santidade não pode vir aqui, na nossa própria terra, e negar o Holocausto indígena", disse o presidente num discurso reproduzido obrigatoriamente pelas emissoras de rádio e televisão venezuelanas.
"Portanto, como chefe de Estado, mas vestido com a humildade de um camponês venezuelano, eu rogo a Sua Santidade que peça desculpas aos povos de nossa América", acrescentou.
Bento XVI afirmou no domingo passado, no Brasil, que a evangelização da América "não significou em nenhum momento uma alienação das culturas pré-colombinas, nem foi uma imposição de uma cultura estranha".
O governante esquerdista venezuelano revelou que esteve "muito atento a tudo o que o Papa disse" no Brasil. Depois de ouvir a afirmação de que a evangelização católica não foi imposta, ele chamou a ministra para os Povos Indígenas, Nizia Maldonado, representante de uma das etnias amazônicas.
Chávez contou que parabenizou a ministra, por já ter dado uma resposta.
Na segunda-feira, a ministra venezuelana para os Povos Indígenas criticou a versão divulgada no Brasil pelo Papa. Ela sustentou que "a invasão imperial provocou o maior genocídio da América Latina".
"Eu gostaria que um sacerdote dissesse que sente vergonha de ouvir que os povos indígenas estavam esperando a evangelização", acrescentou.
Nizia Maldonado afirmou que o objetivo de impor aos indígenas uma religião estranha à sua cultura, como a cristã, não terminou. Ela citou como prova a "os missionários que continuam atuando na fronteira" entre Venezuela e Brasil.
A frase do Papa "é algo muito difícil de compartilhar, muito difícil de sustentar, por Deus!", opinou Chávez, por sua vez. "Será por isso que a Igreja Católica a cada dia perde mais fiéis?", perguntou o presidente. "Eu acho que é por isso", respondeu a si mesmo.
Bento XVI veio pela primeira vez à América desde que se tornou Papa, prosseguiu o presidente da Venezuela, "para dar mais força à Igreja Católica, mas com essas declarações só debilitou ainda mais o Catolicismo".
"Eu analisei por todos lados a frase do Papa, mas a conclusão é uma só: está terrivelmente errada. Não há outra forma de dizer", acrescentou. "Como o Papa pode afirmar aqui, nesta terra, onde ainda devem estar quentes os ossos dos mártires indígenas que foram massacrados pelos impérios europeus, que não houve nenhuma imposição?", insistiu.
O governante adiantou que telefonaria para o Vaticano logo, já que previu que "os jornais amanhecerão com manchetes" dizendo que "Chávez ataca o Papa".
"Não me importo. Digam o que disserem, a verdade não me ofende. Portanto, não importa o que digam as agências de notícias", afirmou.

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