segunda-feira, 12 de abril de 2010

Conversando com Renato do 2F

Olá Renato. Bom dia.




Desculpe a demora para te responder a mensagem enviada. Não tem nenhum problema em debatermos a greve ou qualquer outro assunto. Só acho que vc poderia ter se manifestado pessoalmente quando estávamos na escola. Pois eu fui lá exatamente pra isso e achei um pouco estranho voce preferir, depois, a via 'virtual' ao invés de se posicionar pessoalmente.



Mas isso não é problema, conversaremos essa semana em qualquer lugar. Acho importante que existam pessoas que manifestem suas idéias e vc e todos que foram contra o movimento dos professores tem óbvia e claramente o Direito de pensar do jeito que quiserem, só não acho ideal alguns termos usados nas suas e em outras manifestações (na verdade de lado a lado). Até pq a maioria delas não foi direta.



Não sei se vc sabe, mas a primeira coisa que eu fiz assim que aderi à Greve foi me manifestar na Assembléia da Escola, comunicando aos centenas de pais que lá estavam e me colocando à disposição para ouvi-los e explicar meus motivos e naquele momento e em nenhum outro que participei, tanto com alunos quanto com professores não houve nenhum descida de nível. Inclusive já pude falar isso mais de uma vez elogiando todos os envolvidos de nossa escola independente da posição em relação à Greve. Infelizmente o que vi em algumas declarações postadas no seu Blog e no Fórum da escola estão bem longe dos limites do respeito.



‘Hipócrita’ e ‘Vagabundo’ não acredito que sejam termos ideais para serem usados em relação à minha pessoa e não ajudam em nada para iniciarmos um debate. Vc concorda ?



Mas, volto a afirmar, iremos conversar, sem nenhum problema.

Contanto que o nível de discussão seja respeitoso. Ok?



Acho que existem informações que vc não possui ou ainda não pôde refletir mais profundamente sobre elas. Concordo que a Greve nunca é a melhor estratégia para se tentar mudanças, mas antes temos que conhecer o processo pelo qual chegamos até aqui. Isso e outros detalhes mais complexos iremos com certeza conversar pessoalmente com vc e com todos os alunos, pais, colegas e outros, aliás como faço desde o início.



Inclusive sobre a dimensão política dos nossos atos, que parece que também é um dos seus temas preferidos.



Pelo que pude observar hj em suas páginas vc demonstra vínculos políticos partidários bastante claros. Não vejo nenhum problema nisso Renato, aliás acho bom, pois sem partidos e convicções não existe democracia e também sei muito bem como isso custou caro à sociedade brasileira. O único problema é quando, de parte a parte, a discussão é ‘aparelhada’ por interesses estranhos ao fato. Acho que na greve dos professores isso aconteceu visivelmente dos dois lados tanto por parte de algumas pessoas ligadas ao Sindicato quanto ao Governo e principalmente pela mídia que também nunca é neutra. Todos se aproveitaram o quanto puderam, mas as coisas são assim mesmo e essa é nossa realidade e quem acha que é possível que isso não aconteça demonstra um profundo desconhecimento sobre a natureza dos debates sociais e políticos,uma ingenuidade que beira o infantilismo ou a má fé.



Na verdade penso que quem e o quê importa é que nós, diretamente envolvidos saibamos quem é quem por que age assim ou assado.



Se vc acompanhou minhas manifestações, pôde perceber que procurei antes de qualquer coisa trazer para nosso debate várias questões relativas ao âmbito do ensino aprendizagem (aliás até agora, em minha opinião, todas permanecem sem nenhuma resposta cabível).



Só que é preciso também lembrar que não é aceitável nem saudável para um debate democrático que se imponham limites à priori à atuação de qualquer grupo social.



Isso não combina com liberdade de expressão, de idéias e de convicções, aliás direitos consagrados na Constituição Federal e ser contra isso é coisa de regimes totalitários que já conhecemos bem.



Confesso que me incomoda demais ouvir uma pessoa da sua idade reproduzir argumentos absolutamente obsoletos científica e academicamente falando.



Por exemplo, essa sua insistência em qualificar a profissão docente como ‘Sacerdotal’.



Acredito que vc não conhece suficientemente a história da profissão docente, pois se possuísse consciência do tamanho dos problemas envolvidos nessa afirmação não falaria isso.



Há muitos anos, na verdade desde a Proclamação da República em 1889 quando se separou o Estado da Igreja, e foram criadas várias instâncias civis sobre controle do Estado a parte do âmbito religioso, não se acredita mais na validade da vinculação ‘religiosa’ à esferas sociais particularmente à da Educação como ideal. Aliás isso nem mais se discute há mais de um século.



Se o Governo do Estado de S.Paulo tivesse nos proporcionado condições para um curso decente de História do Brasil no Ensino Médio, com certeza vc teria tido oportunidade de conhecer a profundidade disso e também de outras questões da maior importância.



Até pq a matriz religiosa para justificação de fatos sociais ou políticos já causou ( e continua causando) os maiores problemas que a Humanidade conheceu. Vc já ouviu falar de ‘Fundamentalismos’?



Inclusive a própria escravidão que imperou durante 80% da História do nosso país como a principal relação de trabalho, era plenamente justificada por motivos religiosos, pois Indígenas e Africanos não eram originariamente cristãos e isso foi o que justificou a exploração, a sujeição, o massacre e a exploração destes seres humanos por centenas de anos.



Inclusive possuo um documento de 2001, onde o Papa João Paulo II pede oficialmente em nome da Igreja ‘desculpas’ aos índios, negros e judeus por atos praticados por esta mesma Igreja.



Portanto acho melhor vc refletir um pouco mais antes de dizer que Professor exerce um ‘sacerdócio’, pois isso é desrespeito e uma agressão contra trabalhadores que tem os mesmos direitos de qualquer oura categoria.



Outra coisa, vc ainda é muito jovem e talvez não tenha ainda a dimensão de como foi difícil a luta para que pudéssemos nos manifestar livremente, inclusive sobre questões políticas. Aproveito aqui para reproduzir o Artigo19 da Declaração Universal de Direitos Humanos diz que “todo ser humano tem direito à liberdade de opinião e de expressão; esse direito inclui a liberdade de ter opiniões sem sofrer interferência e de procurar, receber e divulgar informações e idéias por quaisquer meios, independentemente de fronteiras”.



E também lembrar que a Constituição Federal garante o direito à liberdade de expressão e informação, afirmando que ‘é livre a manifestação do pensamento, a expressão da atividade intelectual, artística, científica e de comunicação, independentemente de censura ou licença.’ A Constituição também diz que é assegurado a todos o acesso à informação e que todos têm o direito de receber dos órgãos públicos informações de seu interesse particular ou de interesse coletivo.



É por meio de informação de qualidade e da garantia de diversas vozes no debate público que se formam processos mais democráticos de decisão e levam a sociedade como um todo a estar mais ciente dos desafios que se impõem à educação. Esse é o sentido dos princípios constitucionais da gestão democrática do ensino e da liberdade de aprender, ensinar, pesquisar e divulgar o pensamento, a arte e o saber (Art.206, incisos VI e II, respectivamente, da Constituição Federal).



E acho que quem usa o preconceito contra a dimensão política das coisas deveria refletir um pouco mais sobre as implicações disso. Aliás não sei se vc sabe que o nosso agora ex-Governador foi junto com milhares de outros brasileiros, ele também um exilado político. Fato que, em minha modesta opinião é no mínimo estranho na biografia de quem agora usa argumentos que buscam desqualificar a esfera política das coisas.



Sobre isso penso que basta olharmos para sociedades muito mais desenvolvidas que a nossa, para percebermos a quantidade de preconceito presente em nosso debate.



Mas quem conhece a História do Brasil sabe bem como viemos para aqui. Me assusta muita como parece estarmos vivendo um refluxo no teor das discussões sobre Democracia, Direitos e etc. Aparentemente estamos esquecendo muito rapidamente o quanto isso foi difícil de ser conquistado, quantas pessoas morreram para que pudéssemos respirar um ar um pouco menos pesado de intolerância, de autoritarismo e já tão velozmente esses argumentos retornam com tanta força.



Só para encerrar por aqui. Um dos meus principais argumentos neste movimento foi a estranheza com o fato de nosso Secretário da Educação Paulo Renato ter em seu currículo o cargo de executivo do FMI, o mesmo que produz através do Banco Mundial ‘orientações’ para países do terceiro mundo aplicarem em suas escolas, e o quanto é legítimo pensar que – como em todas as coisas existem sim ali – interesses profundamente políticos, e em minha modesta reflexão, penso que está em curso um processo de desconstrução do ensino público brasileiro, especialmente em SP, com objetivos não declarados de reserva de mercado para uma elite que está nas particulares e mesmo para profissionais dos países mais desenvolvidos, estes também cada vez mais afetados por um modelo que diminui cada vez mais as chances de se conseguir um bom emprego.



Não é que a mídia publicou agora uma matéria falando exatamente sobre isso ! Confira e depois imagine a relação com a imposição dos ‘caderninhos’ que o Governo nos submete.



FOLHA DE S.PAULO 11/04/2010 - 08h45

Cresce 15% desemprego de quem tem 3º grau em São Paulo

ANDRÉ LOBATO

da Reportagem Local

O desemprego para profissionais da região metropolitana de São Paulo que têm ensino superior completo aumentou 15% entre 2008 e 2009.

É o maior crescimento entre todos os níveis de escolaridade de todas regiões metropolitanas analisadas na PED (Pesquisa de Emprego e Desemprego), feita pelo Dieese (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos). Também são avaliadas Salvador, Recife, Porto Alegre, Belo Horizonte e Distrito Federal.

Dessas, tiveram queda do desemprego no superior: Salvador, Distrito Federal e Recife.

Entre 2008 e 2009, em Porto Alegre, o aumento de desemprego para quem tem nível superior foi de 5%; em Belo Horizonte, de 9%. Entretanto, esta foi a região que mais escolarizou sua mão de obra nos últimos 11 anos.

O aumento do desemprego em São Paulo, Porto Alegre e Belo Horizonte é explicado pela forte internacionalização do setor industrial, com alta escolarização, segundo os economistas Marcelo Neri, professor da Fundação Getulio Vargas do Rio de Janeiro, e Márcio Pochmann, presidente do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada).

Para eles, São Paulo representa o centro da economia brasileira, e a crise econômica mundial atingiu com maior intensidade os polos mais prósperos do capitalismo, principalmente pela indústria.

Ambos concordam que os profissionais com maiores ganhos, quase sempre os com ensino superior, foram os mais afetados pelas demissões.

Cortes

"As empresas preferem cortar postos administrativos [de ensino superior completo] com salários maiores", pontua Juan Carlos Dans Sanchez, coordenador de políticas de emprego e renda da Secretaria do Emprego e Relações do Trabalho do Estado de São Paulo.

Além disso, expõe Sanchez, a área de serviços é a que mais cresce em São Paulo, oferecendo salários menores para empregos de remuneração mais baixa e menor escolaridade.

3 comentários:

Renato ... disse...

Bom, a respeito do que eu falei e não da história...

O que eu posso dizer é que eu não lhe chamei de vagabundo nenhum momento, mas se deu a entender isso me desculpe.

Sou contra a greve que teve, mas não sou contra o que se reivindica... a forma foi errada e de uma maneira hipocrita sim! Se o senhor costuma agir coerentemente eu não sei, conheço-o a pouco mais de meio ano...

Gostava mais de você antes dessa greve hipocrita, ainda acredito que o senhor é um bom professor, assim como eu já disse antes... Gostaria de conversar pessoalmente e civilizadamente com o senhor, só não quero durante a aula falar nada sobre pois como eu já disse anteriormente não estou na aula para fazer política e querer me aparecer, na sala de aula eu estou na qualidade de aluno e o senhor acredito que na qualidade de Professor.

Bom, é por aí...



Atenciosamente
Renato.

Renato ... disse...

Professor Milton,

Gostaria de lhe falar o que eu disse hoje para meus amigos... que apesar de eu ser contra a greve e pá.. Dos professores que entraram em greve você foi o unico que disse porque estava em greve e que pelo menos nisso você teve uma conduta legal.


Ranto- 2ºF Oswaldo Aranha

Unknown disse...

Bom vou meter o meu Narizinho nessa conversa!

Hipócrita, palavra que vem do grego Hypokrites, é quer dizer "Ator", aquele que finge!

Agora sim vou começar, então Renato, você diz que a greve foi uma hipocrisia, vamos pensar no significado dessa palavra forte que você usou, bom Hipócrita é aquele que finge, você acha que a greve foi um fingimento, que a greve foi uma disfarce para que professores como o Milton ficassem em casa dormindo? Ou você acha que foi uma desculpa para eles pegarem umas férias no começo do ano?
Você acha HIPÓCRESIA um grupo de pessoas, lutarem, por aquilo que elas acham certo, lutarem por uma edução melhor para gente? E você não acha Hipocrisia, o fato de os professores não terem autonomia em sala de aula, porque ficam seguindo um caderninho que o estado fez? Ou você acha que você entra na USP, só com esse material?
Bom fica ai essas questões pra refletir!
Acho também que você deveria especificar suas idéias, explicar por que você é contra a greve, porque você acha que ela foi feita de maneira errada, e o mais importante você acha que as pessoas que fazem greve agem de maneira errada?!
Pensem bem, Policial faz greve, carteiro, medico, lixeiro, mas só os professores são classificados com “vagabundos”, e como “pessoas que não querem trabalhar” ou pior “não sabem dar aula” quando fazem uma.

Bom chega antes que digam por ai que eu só to puxando saco do Milton!